21 de dez. de 2012

Imortal

Eu via o que ninguém conseguia enxergar. Eu via o navio, antes mesmo de ele surgir no horizonte; via as tempestades e os raios que o atingiam. Eu era possuído, possuído pelo meu dom. Dom que julgavam demoníaco. Meu dom e de mais ninguém. Possuidor da minha alma, o dom era a minha alma.

Eu era apenas um filho de pais ricos, alguém que deveria ser mimado e egoísta. Mas não, eu nunca fui assim. Sempre fui diferente, acanhado; até que descobri o que me tornava diferente. Vez ou outra uma angústia me possuía, eu sentia frio, falta, vazio. Eu era atingido pela distância.

Aos dez anos fui conhecer o mar. Era paradisíaco, mas também era incômodo ver tanta gente. Gente que eu consegui apagar com a chegada de um outro sentimento. Em algum lugar daquelas águas ele surgia. Surgia, majestoso e lento. Minha alma se aproximava antes de todos.

Senti-me na época de guerras nórdicas; povos primitivos; indígenas nus e com uma língua incompreensível. Vi o mar sem água, transformei o mar em deserto. Senti-me em uma montanha, vendo de longe os aglomerados de algas, as ondas quebrando e voltando para onde vieram. Vi os pescadores distantes. Vi tudo o que estava longe. Notei que tudo inexistia.

Eu estava hipnotizado por um navio que ainda não havia surgido. Ele trazia minha alma e deveria voltar com eles: minha alma e o navio. Fiquei maravilhado ao avistar o navio; eu deveria agir. Era uma oportunidade única. Ele jamais viria entregar o que eu queria em minhas mãos. Corri e nadei. Entrei no mar infinito, entrei no caminho que deveria seguir. Mergulhei o quanto pude, o ar não importava. Era como um peixe, um peixe que saía da terra firme rumo ao mar.

Notei que o navio era apenas um instrumento, foi o navio que me fez ir mergulhar. Encontrei minha alma entre as algas. Meu espírito entre os peixes. Imortal. Ícaro voou alto demais; eu fiz o contrário. Afundei nas profundezas do paraíso. Paraíso onde permaneci por apenas meia hora, até que eu não conseguisse respirar. Morri com minha alma, renasci. Sempre fui imortal.

20 de dez. de 2012

Free

E mais uma vez ele passou veloz e livre naquele carro. Dobrou a esquina aumentando a velocidade e eu sorri. Sorri por mim mesma, não foi para ele. Já não estava com a aliança, muito menos com o colar que tinha a inicial do nome dele. Sorri para a minha vitória. Confesso que senti uma imensa vontade de correr até a esquina e gritar, dizer que ainda sentia algo. Mas não fui, nem se quer olhei para trás. Era uma prova, alguém me testava. 


Já não suava frio, nem sentia o coração palpitar. Deixei que o sol afagasse meu rosto, respirei fundo e senti o peso desse ar poluído que inundava minha alma de fumaça. Depois me senti purificada, liberta. Eu já estava em outra estrada, passando entre outros carros com motoristas estranhos. Fiquei rindo por dentro, praguejando minha idiotice. Aproveitei minha liberdade para nunca mais parar de correr.

19 de dez. de 2012

Meme musical

Há exatos dois meses e um dia eu fui indicada pela Mia para fazer esse meme. Mas ameaça do fim do mundo me afetou tanto que não consegui fazê-lo. (Brincadeira, meu povo. A culpa é da internet ruim.)
Enfim, amei o meme, Mia. E amei ainda mais a indicação. Thanks!


1. Pegue seu player (no computador iTunes, WMP, etc) ou MP3/iPod/celular e coloque no aleatório. 
2. Liste as 5 primeiras faixas ouvidas. 
3. Qual delas representa o que você está sentindo hoje? 
4. Qual delas você não ouvia há algum tempo? 
5. Alguma delas te traz uma lembrança marcante? Qual? 
6. Qual delas é a sua favorita?
7. Qual delas você definitivamente indicaria para as pessoas ouvirem? 
8. Algumas delas possui um clipe que é o seu favorito? Sendo positiva a resposta, poste link do clipe para o YouTube. 
9. Relacione as músicas com 5 pessoas e as indique para o meme. 
10. Após responder coloque o link no post Meme: http://polypop.net/segunda-pop-o-meme/

1 / 2. Liste as 5 primeiras faixas ouvidas.
  - Monte Castelo, Legião Urbana
  - Scar Tissue, Red Hot Chili Peppers
  - Magnificent, U2
  - Forever and Ever, He Is We
  - Dois Rios, Skank

3. Qual delas representa o que você está sentindo hoje? 
  Monte Castelo, definitivamente. Estou em um momento muito cheio de amor, amor pela minha liberdade. Estou amando minha nova fase de vida, minhas descobertas. Estou em uma fase de escolhas. Livre, simplesmente livre.

4. Qual delas você não ouvia há algum tempo? 
  Forever and Ever, e... pelamor! Eu ouvia essa música na época em que estava passando por um monte de desilusões. E a maioria das desilusões eram amorosas. Se alguém quiser morrer de chorar, escute He Is We. Eu não escuto mais, já deu!

5. Alguma delas te traz uma lembrança marcante? Qual? 
  Scar Tissue e Dois Rios. Essas duas músicas se relacionam com a minha infância, e muito. Eu ouvia essas duas músicas quando tinha uns cinco anos, e sou transportada para o passado quando estou escutando uma delas. 

6. Qual delas é a sua favorita?
  Monte Castelo. Falando delas mais uma vez, eu sei... (Mato quem não perceber outra música da Legião nessa resposta.)

7. Qual delas você definitivamente indicaria para as pessoas ouvirem? 
  Todas, vai. Exceto a Forever and Ever, claro.

8.  Algumas delas possui um clipe que é o seu favorito? Sendo positiva a resposta, poste link do clipe para o YouTube. 
  Não tenho por causa da internet ruim... #mimimi

9. Relacione as músicas com 5 pessoas e as indique para o meme. 
  (Lá vem uma desculpa!) É pessoas, eu não sou a pessoa mais sociável do mundo. Quem eu indicaria já fez o meme (oi, Mia!). Afastei-me das pessoas da blogosfera, parei de comentar em 99,99% dos blogs e estou com medo de queima de arquivo, hahaha! O meme está aberto pra que quiser fazer, mesmo que pouquíssimas pessoas andem por aqui. Bye bye.

2012 X 2013

Mais um ciclo se fechou. Enfrentei os fantasmas do meu passado. A aliança que o representava já não se encontra em meu dedo. Abandonei-o e desejei que ele consiga ser feliz. Não quero mais a voz dele chamando o meu nome. Consegui destruir o sentimento que criei. Ele me prendeu apenas pelo tempo que foi necessário, e eu o agradeço por ter permanecido. Jamais seria o que sou se esse sentimento não existisse.

Finalmente voei, consegui saltar e cair sem arranhar-me. Soltei as correntes que me mantinham presa, encarcerada. Esse ano que está indo embora leva a Gleanne Cavalcante que não assumia a própria identidade. Levou o que sobrou daquela menina que chorou na porta da escola. Eu esperei muito esse tal 2012, eu sempre soube que esse seria um ano de muitas mudanças. Mas nunca imaginei que mudaria tanto. Tive de refazer minha alma para que a Gleanne Rodrigues nascesse. Tive que encarar o espelho, o papel e a caneta.

Esse ano ainda me deu amizades verdadeiras e uma pessoa que poderei gostar um dia. Alguém imaturo, uma alma que eu terei que esculpir. Sei que conviver comigo não é tão fácil assim. Sou um tornado, uma alma em constate mutação. Também preciso de ajustes, preciso dessa nova fase que virá. Necessito de um pouco mais de convivência para compreender os deslizes humanos. Preciso de alguém que me desafie e me controle. Preciso sair desse chão que me prende e pular todos os obstáculos. Vênus deixou de ser um planeta com um grande significado. A deusa do amor me libertou de suas artimanhas e resolveu deixar-me com minha liberdade. Escolherei o que quiser e ainda tenho a opção de retornar depois de cada passo torto.

Espero que 2013 revele outros defeitos meus, só assim os concertarei. Entrarei em 2013 com uma alma totalmente nova, uma alma novinha em folha. Sei que tentarei melhorar, e não esperarei que venham quando quiserem. Enfrentarei os que mais temo para adquirir minha liberdade. Sempre tentando mudar um pouco da História todos os dias.

18 de dez. de 2012

Acídia

Vi pessoas que apenas respiravam, eram como uma porção de corpos sem alma. Eu senti meu coração doer ao perceber isso, lamentei por viver entre eles. Sei que não sou melhor, sei que no fundo sou tão imunda quanto os outros. Mas sinto dores quando os vejo absortos em um nada que não se define. 
Me perguntei se existia alguma maldade em tentar - e conseguir - ser diferente dos demais. Não é orgulho, não é preconceito. É só uma alma em fase de descobertas; uma alma com medo de morrer. Abri livros e mais livros, senti que ficaria para sempre naquele lugar, não importaria onde eu estivesse. Senti que tinha uma alma mais madura que o normal, olhei os que estavam ao meu lado e enxerguei suas almas infantis. Senti o peso de tantos anos em minhas costas. Percebi que nunca fui ingênua, que jamais fui inocente, boba. Isso é uma consequência do meu trauma, e agradeço por ser assim. Gosto de ter meus olhos abertos, minha mente livre.

Só quero saber se sempre será assim, se eles sempre serão automáticos. Se jamais distinguirão o certo e o errado, se a primitividade será eterna. Até quando viverão apenas de respiração e do simples bater de um coração? A inconsequência nunca será extinta? Se assim for, só lamentarei minha eternidade.

11 de dez. de 2012

Clarisse


Aos três anos, Clarisse foi violentada, não foi um estupro, mas teve o mesmo valor. A violência foi prolongada, arrastou-se por muitos anos. E esses anos fizeram com que ela compreendesse o que acontecia, e a deixaram culpada por ter passado por tudo o que passou. Foram lágrimas e mais lágrimas derramadas por uma culpa inexistente, um pecado que ela não havia cometido; mas que o carregaria para o resto da vida.

Será que ele era culpado por tudo o que aconteceu? Era uma pergunta constante, que ela respondia com um “sim” e um “não”, sem chegar ao real objetivo da pergunta. Talvez ele possuísse uma parcela de culpa, já que ele tinha plena consciência de seus atos. Mas ela não poderia culpá-lo, acusá-lo, muito menos odiá-lo. Ele era uma luz, presente em todos os dias da vida dela. Sim, uma luz.

Clarisse pensou – quando ficou mais velha – em beber, usar algum tipo de droga que a deixasse esquecer tudo, pensou em matar-se. Aliás, a morte a acompanhava desde a sua concepção, até que chegasse o dia que as duas se encontrariam. Clarisse e a Morte. Ela morria todos os dias, como todos nós morremos. Só que com ela era diferente, ela conseguia sentir a Vida junto com a Morte; duas companheiras inseparáveis, duas ações necessárias. Clarisse carregou dentro de si um amor pelo mundo, um amor para as pessoas que o mereciam e nunca o abandonou. Ela não usou drogas, nem teve covardia o bastante para se destruir.

Clarisse conseguiu ter a maturidade necessária para superar, uma alma formada para entender e um coração magoado que ela deveria regenerar. Ela possuía uns olhos castanhos profundos, que ninguém jamais interpretou de forma correta; olhos aparentemente felizes, mas por dentro, eram olhos magoados, doloridos por causa das lágrimas carregadas de facas.

Clarisse decidiu voar, e deixou que a chamassem de louca, e que depois a internassem em um hospital psiquiátrico. Não se importaria, voou dentro de si. Ela amou seu corpo imperfeito, suas mãos que já haviam passado por tanto. E seus olhos. Seus olhos que já haviam visto demais, presenciado o que não deveriam, chorado como ninguém. Ela decidiu que amaria alguém, seja lá quem fosse, mas amaria. Clarisse amou um homem de olhos castanhos, quase translúcidos. Ela o amou em segredo, nunca falou sobre, nunca deixou escapar. Ela queria alguém com que pudesse contar e confiar, lembrou-se de si mesma. Lembrou que ela, apenas ela conseguia entender a própria dor, os próprios fatos.

E compreendeu-se. O fato da infância não a acabou, ao contrário, transformou-a no mais encantador dos seres.

Datas, folhas arrancadas de um calendário qualquer. A mais idiota contagem dos dias. Olheiras foram provocadas pelo vício de ler, a melhor droga que já foi encontrada. Unhas afiadas, prontas para uma situação que necessitasse de uma arma cortante. Uma língua afiada de palavras cortantes; mas Clarisse era e ainda é a mulher mais doce que conheci. Ela só não se mostrava, não entregava os pontos, não se deixava levar. Clarisse não me entregou os pontos. Clarisse não me deixou vasculhar a alma dela, não me permitiu que a interpretasse de imediato. Queria deixá-la nua em frente ao espelho e dizer-lhe o quanto era linda. Ela era livre e não corava por qualquer coisa. Sabia que um elogio era um elogio. E ela não limitava-se com sorrisos, argumentava comigo e perguntava o por quê de tal elogio. Clarisse nunca foi simples, era a pessoa mais difícil de se conviver. Ela foi feita para estar só. Sozinha, porém, desejava os abraços de alguém que ela não conhecia, que ela ainda não havia encontrado. O alguém era eu, eu sempre soube. E o alguém também era ela. A Clarisse normal que havia ficado nos espaços entre as estrelas. Ela perdeu a Clarisse simples, vazia, de problemas normais, patricinha e mimada. Clarisse era uma mulher aos 15 anos.

Clarisse nunca morrerá, permanecerá dentro dela e dentro de mim. Clarisse foi minha mulher, minha amiga, meu irmão, meu tio, meu avó. Ela poderia ser o que quisesse. Clarisse parou de respirar aos 75 anos, ao lado da nossa filha e dos nossos netos. As crianças mais inteligentes que ela conseguiu “projetar”. Clarisse ainda está aqui e ainda sou um rapaz idiota que ela fez homem. Ela ainda está olhando além do mar e ainda continuo querendo entendê-la. Era um trauma, cheia de cicatrizes e ela sempre falava: “Deixe-me com minhas cicatrizes, preciso delas.” E ela realmente precisava, ela queria lembrar de tudo o que já havia acontecido; sem mágoas, só com um sorriso de saudade da menina que tinha medo do futuro. Ela amava a mulher que havia se tornado. Clarisse nunca me falou nada, deixou tudo escrito. Disse que eu só deveria ler depois que ela morresse, caso eu desobedecesse, ela me mataria de qualquer forma, tenho quase certeza disso. E eu li tudo, assim que ela falou: “Terei que te deixar.” Mas ela não morreu, eu sei que não; ainda ouço seus passos, ainda amo o cheiro daqueles livros. Ainda sinto a quente respiração de Clarisse ao pé do meu ouvido.

9 de dez. de 2012

Exausta

Sim, exausta. O prolema era a exaustão de corpo e alma que ela sentia. Cansada de quase todas as pessoas, cansada dos compromissos, das regras, de praticamente tudo. Dos livros ela ainda gostava, mas outros compromissos não deixavam que ela permanecesse com eles. Ela ainda amava o céu estrelado, mas ele parecia cada vez mais distante. Ela ainda amava os antigos amores, mas a vida a afastou deles.

Ela ainda os amava. E era isso que a magoava: o amor inacabado, o amor sem chances de continuações. E agora havia o desamor, desamor por alguém que o próprio destino levou. Alguém que o destino trancafiou por trás dos muros, o escondeu da antiga luz e agora tudo deveria estar banhado pelas trevas. Mas não existem trevas por aqui, só um par de olhos úmidos e acostumados com os tombos.

E o tal ciclo continuava a se cumprir, e a cada passo dado uma mudança acontecia. As palavras ainda brilhavam, só que não tão intensamente. Ela havia voltado do ponto apagado, com um sorriso maquiando a tristeza. E os olhos dela a traíam, era como se ela jamais pudesse esconder a própria alma. Era como se no rosto dela sempre estivesse escrito tudo o que se passava. Era estranho, intenso e inevitável. Ontem ela olhou o oceano, mas de nada adiantou. O oceano ficou no ontem, e a vida dela continuou.

6 de dez. de 2012

Guiada pela morte


Cansei das dores, de ser oculta, falsa. Cansei de ser fingida, ou melhor, reservada. Sou reservada demais. Às vezes odeio tudo o que vivi, odeio meus traumas, minhas tentativas de suicídio, murros dados na parede. Detesto ainda ter na memória a imagem de uma cartela de comprimidos para hipertensão; era algo que me mataria em minutos. Pensei em pular de alguma ponte, escada, janela. A janela da minha casa era tentadora e ainda é. Mas em todas as tentativas, desisti.  Minha vida foi - e sempre será  - guiada pela morte.

1 de dez. de 2012

Livros molhados

Faltam uns livros molhados que ficaram em cima do telhado. Faltam alguns relógios que marcavam horas indecisas. Faltam teus olhos e teu sorriso de dentes tortos.

Esqueci de todos os compromissos e deixei minha alma secar ao sol. Permaneci imóvel, deixei apenas o mundo em constante movimento. Esqueci os espaços que o tempo deixa. O único problema é que eu te vejo em cada canto da minha rua; te vejo desde o primeiro dia. Te odeio desde então.

Depois de todas as noites frias, depois das chuvas, do sangue e ódio. Após as quedas, junto os meus pedaços e tento me regenerar. E é em vão. Tudo é vago, indeciso, indecifrável, escuro e repugnante. Depois da tua chegada... tudo escureceu.

28 de nov. de 2012

Cleópatra na chuva

Poderia ser apenas mais uma manhã idiota, daquelas que eu saio atrasada por causa dos meus olhos de Cleópatra. Mas por alguma razão desconhecida, resolvi levar os fones para ouvir Paradise, do Coldplay. E eu não poderia ter feito uma escolha melhor. 

Quando eu estava na metade do caminho começou a cair uma chuva fraca, e eu comecei a sorrir. Disse para quem estivesse controlando as torneiras lá em cima: "Pode mandar água!" (Sim, eu sou dessas que fica falando sozinha com coisas/pessoas invisíveis.) E a pessoa obedeceu. Quer me ver feliz? Me coloque no meio de um temporal.

Então, não poderia ter sido melhor. Cantarolar: "Life goes on/ It gets so heavy/ The wheel breaks the butterfly/ Every tear, a waterfall/ In the night/ The stormy night/ She closed her eyes/ In the night/ The stormy night/ Away she flied..." Colocar as mãos em forma de agradecimento e sorrir. Toda chuva me lava a alma. Em cada tempestade minha alma se regenera, se reconstrói. Eu sempre, sempre conto os segundos entre um relâmpago e um trovão...

E enquanto a chuva caía, eu sorria e observava se não havia algum anjo por ali. Não encontrei nenhum anjo ao alcance dos meus olhos. Mas, encontrei-o em minhas mãos.

21 de nov. de 2012

Retorno


Eu sei que voltarei. Voltarei para o lugar que antigamente me acolheu. Voltarei para o único momento que senti o meu espírito livre. Só lá encontrarei o verdadeiro significado da minha alma. Só lá descobrirei quem eu sou.

18 de nov. de 2012

X Bienal Internacional do Livro do Ceará


No dia 15/11 tive a imensa felicidade de estar na Bienal. Mesmo que eu tenha lido que eram esperados 600 mil visitantes durante todo o evento, confesso que me surpreendi ao ver tantas pessoas. E todas elas (ou 99% delas, já que os bagunceiros não perdem um evento) reunidas por um único objetivo: livros. Nesse dia eu vi que o mundo não está perdido, ainda há esperanças de sobrevivência. o/

Com o tema "Padaria Espiritual - "O Pão do Espírito para o Mundo", a Bienal homenageia os 120 anos deste grupo de escritores, pintores e músicos que escandalizaram Fortaleza no século XIX. Todos eles reunidos com o propósito de levar para as pessoas o gosto pela arte e literatura. Eles também protestavam contra a burguesia, clero e etc. (Quanta vontade de estar lá nessa época, ou começar novamente algo do tipo.)

Bem, vou parar de falar no evento e falar em... livros! Mais precisamente nos livros que eu e meus pais compramos. Felicidade nível: 83893920283.

Bagunça mais linda não há. Graças ao cartão de 50 reais que ganhei, 
comprei ainda mais livros! *---*


O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë. Comprei-o por 20 reais, era o último com esse preço! *-* 
"Publicado originalmente em 1847, O morro dos ventos uivantes se consagrou como uma das principais obras da língua inglesa. Uma história de amor intenso, maldição e ódio: a paixão do órfão Heathcliff e Catherine Earnshaw. Ele foi adotado pelo pai de Catherine e levado para Wuthering Heights, propriedade da família. Os jovens criaram fortes laços rapidamente, mas o destino conspira contra a união deles. Este foi o único romance escrito por Emily Brontë, uma obra-prima sem precedentes que ainda hoje emociona leitores de todo o mundo."

Descoberta ao Amanhecer - Walter Veltroni: Comprei-o por inacreditáveis cinco reais. CINCO REAIS!
"Giovanni Astengo tem pouco mais de quarenta anos e trabalha no Arquivo do Estado, onde cataloga a vida cotidiana e, no entanto, extraordinária que pessoas comuns registraram em seus diários. Tem uma mulher sempre preocupada com a carreira e dois filhos queridíssimos: Lorenzo, vinte anos, generoso e cheio de entusiasmo, e a adorável Stella, uma menina Down. Do passado, traz uma ferida não cicatrizada: num domingo pela manhã, quando tinha treze anos, seu pai desapareceu para sempre, sem explicação. Numa manhã de agosto, uma manhã "simples, banal, sem lampejos nem sentido", Giovanni sente-se impelido a voltar à casa de campo da família, lugar da felicidade perdida, abandonado havia décadas. Dentro da casa há um telefone de baquelita. Esse velho objeto esquecido se torna o instrumento pelo qual Giovanni consegue abrir uma passagem na barreira do tempo e lançar luz sobre o mistério que marcou sua vida."

Para Todo o Sempre - Thierry Jonquet: Comprei-o por cinco reais. Muito amor! Identificação nível: infinito. *-*
"Anabel é uma jovem que teve seu passado devastado pela perda de um ente querido. Sua vida parece ir à deriva até conhecer o enigmático senhor Jacob, dono de uma agência funerária e pesquisador da morte. Quando a vida de Anabel parece ter adquirido um novo sentido, um matador profissional cruza seu caminho. Ele a usa de isca para chantagear o senhor Jacob e obrigá-lo a revelar um grande segredo. Para salvar a amiga, ele terá de contar a verdade sobre o homem que o assassino procura, alguém que, como o próprio senhor Jacob, está ligado eternamente à morte."

Ilusões Perdidas (Vol. I e II) - Honoré de Balzac: Nem preciso falar que surtei ao ver esse livro, né? E pelo incrível preço de 10 reais. Amor, meu povo. Amor demais por tê-lo aqui.
"O jovem poeta Lucien Chardon decide deixar o interior da França e viver em Paris para tentar se realizar profissionalmente: ele ambiciona se tornar escritor. Com a ilusão de conseguir viver dessa atividade, instala-se na capital com dois originais prontos debaixo do braço: um livro de poemas e um romance histórico. Lucien consegue emprego na imprensa diária e descobre que o compromisso com a ética e a verdade não é o forte dos jornalistas. Na França de 1820, a corrupção, o suborno, as trapaças políticas e as artimanhas jurídicas fazem parte da profissão. Publicado em 1843, o romance é uma das obras-primas da literatura universal. Além de um encarte de apoio pedagógico, a edição traz um apêndice com informações sobre o contexto histórico em que a obra foi escrita, sobre a escola literária a que pertence e sobre a vida do autor."

Dom Casmurro - Machado de Assis: Eu estava com muita vontade de ler esse livro e o encontrei pelo preço de 4 reais. Foi o livro mais barato que comprei. <3
"Machado de Assis (1839-1908), escrevendo Dom Casmurro, produziu um dos maiores livros da literatura universal. Mas criando Capitu, a espantosa menina de "olhos oblíquos e dissimulados", de "olhos de ressaca", Machado nos legou um incrível mistério, um mistério até hoje indecifrado. Há quase cem anos os estudiosos e especialistas o esmiuçam, o analisam sob todos os aspectos. Em vão. Embora o autor se tenha dado ao trabalho de distribuir pelo caminho todas as pistas para quem quisesse decifrar o enigma, ninguém ainda o desvendou. A alma de Capitu é, na verdade, um labirinto sem saída, um labirinto que Machado também já explorara em personagens como Virgília (Memórias Póstumas de Brás Cubas) e Sofia (Quincas Borba), personagens construídas a partir da ambigüidade psicológica, como Jorge Luis Borges gostaria de ter inventado."
Dicionários, Atlas do Corpo Humano e Geográfico: Esse kit saiu por 10 reais. Nem preciso falar o tamanho da minha alegria. *o*


Atlas e panorama dos países e continentes: Comprei por 10 reais. Item indispensável para uma futura mundivagante. <3


Dicionário Ilustrado de Inglês - Português / Português - Inglês: Esse foi presente do meu pai. Saiu por apenas 50 reais. Levando em conta o tamanho da criança e que ele era 125 reais mais caro, haha. Ah, ele ainda vem com um curso audiovisual de Inglês (VCD).


E acaba aqui. Depois desse dia, minha felicidade nunca mais foi a mesma. :D Ah, e em breve farei a resenha de todos os livros. Bye bye.

16 de nov. de 2012

Em algum lugar do passado

A minha história com esse livro é um caso do passado. Peguei-o na biblioteca da escola (há um ano atrás) e comecei a lê-lo, mas, em breve desisti da leitura. Na quinta-feira peguei-o novamente e disse: "Já está na hora!" Realmente, já estava na hora de conhecer Richard e apaixonar-me por ele.
" A fantasia me levara a apaixonar-me por um retrato e aí viajara através do tempo para estar com o original daquela foto. A fantasia devia, também, prever minha vinda até Elise. Excetuando-se isso, a situação era - e é - de absoluta realidade. Agora, apenas atos reais podem determinar o nosso futuro. " pág.: 217
Uma fuga para qualquer lugar, uma moeda nas mãos, e: cara, norte; coroa, sul. Foi fugindo de si mesmo e do próprio destino que Richard Collier saiu de Los Angeles. Apesar de seus 36 anos, as dores de cabeça tornaram-se fortes e frequentes. A causa disso: um tumor.

Por favor, não pensem que este livro é uma lamentação por causa da doença. Ele é uma fuga, um descobrimento, um amor e um desejo incessante de encontrá-la (Elise McKenna) novamente. Ou seria encontrá-la pela primeira vez? Esse livro prova que o amor nasce através de tudo, até mesmo de uma foto (de uma pessoa desconhecida).

Elise era uma atriz, com uma vida particular totalmente particular. Richard, um escritor moribundo. Ele a conheceu por uma foto, dentro do mesmo hotel que ela estivera há 75 anos atrás. Cheio da presença do passado e um amor súbito pela fotografia, Richard decide pesquisar sobre aquela mulher. Descobriu alguns de seus gostos, suas peças, sua energia (e tudo isso através de livros).

Cada vez mais apaixonado, Richard decide voltar (literalmente) no tempo e conquistá-la, apoderar-se de todo o amor dela. E nessa viagem é desenrolada toda a história. Uma história envolvente, emocionante, e de tão linda, torna-se quase real. Um amor ardente de duas almas aprisionadas por anos, e que finalmente se encontraram.

Até que ponto o amor pode chegar? Até que ponto esse sentimento tem total valor? Viajar no tempo foi o menor dos sacrifícios para Richard. Bem que eu queria poder contar todo o final, que me surpreendeu até demais. Porém, já soltei mais spoilers do que deveria. Só espero que vocês leiam esse livro maravilhoso.

Clocks

Há tempos atrás eu era vazia, confesso. Embora contivesse resquícios de uma futura personalidade intelectual, nada se concretizava, nada dava sinais. Porém, o tal passado transportou-me para o futuro, que jamais nos convencemos de sua chegada. O futuro é agora. O futuro existe e é totalmente atuante. Nossas mentes limitadas se reduzem a definir o hoje como presente, ontem como passado e o amanhã como futuro. Pobres almas.

O futuro é o agora, o hoje e o ontem. Não há divisor de águas que consiga mudar isso. Não há quem jogue isso por terra. Por acaso o hoje não é o futuro do ontem? Sim, é. E o ontem também é o futuro, mesmo que esteja arquivado.

Datas, datas. Já detestei essa contagem, já detestei esse padrão, essa monotonia. Não que hoje eu esteja totalmente conformada, adaptei-me, apenas. 

É difícil acreditar que vivo fazendo perguntas sem respostas. Que vivo de pensar em nada durante uns minutos. Que sou tão limitada e sei tão pouco.

Queria voltar para o ontem. Quero ir logo para o amanhã. Na verdade, não sairei do lugar.

12 de nov. de 2012

Compatibilidades

Calça preta, camisa cinza, um tênis qualquer e uma aparente dor no pescoço. É o cansaço de todos os dias e eu o entendo perfeitamente. Mais uma madrugada saindo do trabalho, seguindo o caminho de casa, vendo as mesmas pessoas de sempre. Me pergunto se ele já quis morar sozinho, se ele já teve essas neuras, se já foi louco (isso ele já foi e ainda é). Ele tem um carro do tempo que a minha avó tinha os seus 40 anos, mas o que importa é se essa relíquia anda, embora seja ridículo. Ele tem o toque de celular que eu mais odeio nesse mundo, o mesmo do meu despertador. Ele tem o olhar profundo que eu sempre admirei e tem os dentes perfeitos que eu sempre desejei pra mim. É o tipo certo de pessoa errada que me causa repugnância de tanto que eu o amo. Acho que ele não seria a água se eu fosse o fogo, talvez ele viesse a ser álcool ou gasolina, o que me faria a queimar cada vez mais. Não é um amor adolescente, embora eu seja. É o amor mais maduro que existe. Nós dois somos do tipo de pessoas que são feitas uma para a outra pela nossa total diferença, que nem óleo na água. Mas temos lá as nossas compatibilidades, em torno de 10%.
P.S.:  Esse texto foi escrito em julho de 2011. É que está maluco demais e eu tô querendo justificar.

11 de nov. de 2012

O guardião de anjos

Ele foi um guardião de anjos em tempos passados, hoje não passa de um simples mortal. Era aquele que orientava os anjos, aconselhando-os e afagando os humanos, mesmo sendo invisível. Ele notava todas as lágrimas, antes mesmo que elas brotassem. Porém, o cargo perfeito não foi eterno. O seu maior desejo foi atendido, o desejo ser um humano como todos os que ele observava sofrer.

Mas em sua vida terrena, perdeu-se em seus conceitos e crenças. Nada havia restado daquele seu instinto de guardião. Ele tropeçou nos próprios pés e destruiu todos os seus sonhos terrenos. Deixou-se guiar por aquele que ele mais detestava e acreditou que tudo estava acabado.

Ele ansiava um recomeço, procurava sempre um luz acesa no fim do túnel. Uma luz que não existia, ou nunca estava acesa. Estava desesperado desde que se entendia por gente. Sempre estava com um maldito nó na garganta, sempre estava prestes a desabar. Era como uma construção imperfeita, onde os tijolos foram colocados de qualquer jeito, onde o cimento era como lama. A cada vez que a lua surgia, a cada vez que a primeira estrela brilhava no céu, ele se perguntava como poderia ser tão sujo e imperfeito.

Mal sabia ele que havia sido um guardião de anjos.

Ele encontrou no próprio reflexo toda a imperfeição do mundo. Encontrou em si mesmo todo o sofrimento. Porém, ele enxergava aquilo que não era, aquilo que nunca foi. A cada nova estrela que surgia um pedido era feito. Ele pedia para encontrar-se antes de enlouquecer. E depois de uma noite cheia de lágrimas, ele conseguiu sonhar. Sonhou com anjos, milhares de anjos, e um deles tinha o seu rosto. Depois do sonho, ele decidiu procurar sua verdadeira identidade.

Ele havia aparecido em um orfanato, foi deixado no jardim. Não existia nenhum vestígio de seus pais. Nunca possuiu nenhum documento onde constasse o nome de seus pais. Era um enigma. Então, ele decidiu colocar sua foto em um jornal. Só que para isso ele teve que olhar-se em um espelho para descrever suas características. Foi a primeira vez que ele encarou o espelho. E era lindíssimo, magro, rosto largo e perfeitamente desenhado. Seu cabelo era um tom quase preto de castanho e tinha uns olhos dourados. Sim, dourados e demasiadamente brilhantes. Até que ele decidiu procurar por um sinal, uma cicatriz, algo que facilitasse sua descrição. E não havia nada que marcasse sua pele branca. Até que ele lembrou de suas costas. E se surpreendeu ao ver duas imensas cicatrizes diagonais que começavam um pouco abaixo de sua nuca. Eram lindamente sobrenaturais. Depois disso, ele fez um pequeno corte no pulso para ver o próprio sangue. E com isso, uma nova surpresa aconteceu: o sangue que jorrava de suas veias era tão dourado quanto seus olhos, e exalava um perfume inexplicável.

Essa foi a única vez que ele sentiu-se perfeito. O corte não estancou, pelo contrário, abriu-se cada vez mais rasgando sua pele. Só aí ele entendeu que não se encaixava nesse mundo pelo fato de ter sido um anjo guardião. O pulso cortado tirou-lhe a vida, mas não trouxe a morte. Ele apenas sentou-se no chão e esperou que o sangue parasse de jorrar. Mas, o sangue não parou de jorrar e sua visão clareava cada vez mais. Era a tal luz no fim do túnel. Seu corpo foi apagando, até que desapareceu por completo. Ele não morreu, só retornou ao paraíso. Até depois, Olhos Dourados.

10 de nov. de 2012

Falsa liberdade

Queria estar na Bienal, em Paris dentro da Shakespeare and Company, dentro de um ônibus com um destino qualquer. Mas eu estou sentada no meu quarto, como sempre. Estou com dor de cabeça desde ontem e sonhando com os meus sonhos desde ontem. Tantas coisas aconteceram ontem. Mas, poucas coisas me levam para onde eu quero.

O clima está quente, e eu estou arrepiada de tanto frio. Um frio que vem da alma.

Acho que vou prender meu cabelo de qualquer jeito e sair por aí, sem pensar em nada - coisa que eu tenho feito até demais - e tentarei me libertar. Eu prometo que tentarei me encontrar. Pode ser que eu chute as pedras e poças d'água. Acho que eu encontrarei o caminho da praia. Caso contrário, permanecerei caminhando.

8 de nov. de 2012

O meme literário de um mês...


..de uma vez só! \o/
Então, esse é famoso meme do blog Happy Batatinha que eu só percebi que era legal hoje. Me matem! Já que novembro não está sendo um mês muito inspirador, - assim como o mês de agosto, setembro e outubro - vamos com o meme porque a vida tá difícil.

Dia 01 – Que livro você está lendo? Sobre o que é? Onde você está? Você está gostando?
As Melhores Histórias da Mitologia Nórdica, A.S Franchini e Carmem Seganfredo. É sobre mitologia nórdica (dãh), já estou no final. Sim, até que eu gostei do livro, é um pouco engraçado, mas fiquei um pouco decepcionada.

Dia 02 – Qual foi o último livro que leu e qual é o próximo livro que lerá? Fale um pouco sobre eles.
O último livro foi Cantos de Outono, e pelo amor de Deus, o livro é a mais pura depressão suicida. Fiquei até com vontade de me matar, só que não. E quanto ao próximo livro que lerei, isso é um enigma. Só saberei quando chegar na biblioteca da escola e falar "É esse!"

Dia 03 – Como você escolhe seus livros? Por autor? Por assunto? Pela sinopse? Por uma indicação? Fale sobre isso.
Raramente escolho por autor, mesmo que eu tenha uns dois livros do Carlos Heitor Cony para ler na biblioteca. Enfim, eu só escolho um livro depois de ler a sinopse.

Dia 04 – Você costuma lê certo livro só porque ele está em voga? Você é do tipo que lê o que todo mundo está lendo só para estar na “moda” ou segue o seu próprio estilo de leitura?
A Saga Crepúsculo e Cinquenta Tons de Cinza estão aí para provar que eu não gosto dessas modinhas literárias. Eu sigo o meu próprio estilo, que é algo indefinido. hahaha

Dia 05 – Você costuma ler graphic novels e/ou gibis?  Gosta? Não gosta? Tem algum que seja o favorito? Fale sobre isso.
Não gosto. Já gostei de gibis quando tinha meus 5 anos.

Dia 06 – Um livro que todos deveriam ler pelo menos uma vez.
Papisa Joana, Donna Woolfolk.

Dia 07 – Você já pensou em escrever um livro? Se sim, sobre o que seria? Fale um pouco sobre o assunto.
Já. Penso em escrever um livro desde os meus 12 anos. O livro seria (ou será?) um romance, regado de liberdade. O casal quebraria regras impostas pela sociedade, religião, família e etc. A única coisa que os dois querem é conquistar cada vez mais um ao outro e viverem juntos com o mundo desabando lá fora. Juntos, contra o mundo e vivendo 24 horas de cada dia sem pensar nas próximas. <3

Dia 08 – Cite um livro que você gostaria que nunca acabasse. Por que?
Papisa Joana. Não existiu angústia maior do que fechar aquele livro.

Dia 09 – O que você acha dessa “moda” de livros que acabam virando séries? É a favor? É contra? Não fede nem cheira? Diga o por quê.
Nunca li nenhum, mas, se a série realmente seguir o livro, tudo bem.

Dia 10 – Spoilers te assustam? Fica triste quando lê algum sem aviso prévio ou não faz diferença saber detalhes essenciais da história?
De uma certa forma, sim. Eu gosto de ler o livro para descobrir todos os fatos. Mas eu mesma escrevo alguns spoilers, então...

Dia 11 – O que faz um grande escritor? O que faz um grande livro? Quais são as qualidades essenciais em ambos, na sua opinião, para que eles estejam entre os melhores?
Um escritor tem que saber mesclar fatos leves com pesados, transmitir sentimentos por suas palavras. Um grande livro é o que realmente nos tem algo para contar, algo que toque a alma. Que passe sentimentos para o leitor.

Dia 12 – Você prefere livros narrados em primeira ou em terceira pessoa? Na sua opinião, o tipo de narrador pode influenciar a história do livro? Fale sobre o assunto.
A maioria dos livros que li são narrados em primeira pessoa. Mas, eu leio os que são narrados em terceira pessoa numa boa.

Dia 13 – Cite um trecho de um livro que você gosta.
"O que havia de errado com ela, que não desistia de seus sonhos impossíveis? Todo mundo lhe dizia que seu desejo de aprender era desnaturado. No entanto, ela tinha sede de conhecimento, ansiava por explorar o mundo mais vasto das ideias e das oportunidades aberto para as pessoas cultas" - Papisa Joana.

Dia 14 – Você costuma frequentar bibliotecas? 
A biblioteca municipal? A da faculdade? Quantos livros costuma pegar? Fale um pouco sobre o assunto.
Sim! Amo a biblioteca da minha escola. Só pego um livro por vez porque é droga da regra da escola. :(

Dia 15 – Se você pudesse escolher um único livro para ganhar/comprar até o final do ano, qual seria?

Papisa Joana. Eu quero aquele livro agora! (Infelizmente ele não se materializou com o meu pedido.)

Dia 16 - O que te faz largar a leitura de um livro no meio do caminho? Que defeitos imperdoáveis um livro tem que ter para você abandoná-lo?
Enrolação demais, monotonia e depressão suicida. (Trauma pós-Cantos de Outono).

Dia 17 – Na sua opinião, qual é o propósito da literatura? Entreter? Educar? Ampliar horizontes? Fale um pouco sobre isso.
A literatura está aí para entreter, nos completar e até mudar quem nós somos. Depois que eu realmente comecei a ler um livro após o outro, me tornei outra pessoa. E amadureci uns 10 anos, mentalmente falando.

Dia 18 – Você costumar ler e-books? Ou prefere o bom e velho livro em papel? Por que? 
Ainda não li um e-book. Nada se compara com o cheiro de livro novo. E livro mofado também, ora!  hahaha.

Dia 19 – O que você acha da elitização da literatura? Você acha que realmente só é intelectualizado aquele que lê os clássicos da literatura? Que ler 1000 livros “de banca” não equivalem a 10 clássicos? O que você acha das pessoas que criticam a literatura “para a massa”, os blockbusters literários? É mesmo possível julgar o nível de intelecto de uma pessoa pelo que ela lê? Você tem algum preconceito literário?
Na minha opinião você tem que ler aquilo que gosta. Todos nós temos que ler livros ruins para saber identificar os bons. (E para quem deseja escrever um livro, principalmente.) Mas, dá para medir o nível do intelecto de uma pessoa pelos livros que ela já leu.

Dia 20 – Cite 3 livros especiais na sua vida. Fale sobre eles.
Marley e Eu - esse livro foi o pontapé inicial para que eu entrasse no mundo da leitura. Eu o amo por causa disso.
História dos Treze - primeiro livro que eu li que fala de Paris. Ou melhor, Paris é uma personagem dos livros de Balzac. E Balzac era tão apaixonado por Paris, como eu também sou.
Papisa Joana - (está por último só pra fazer suspense, hahaha.) Este é O livro da minha vida. Joana é o exemplo de que é possível realizar tudo aquilo que se deseja.

Dia 21 - Cite 3 personagens literários favoritos. Fale sobre eles.
Joana (Papisa Joana)
Gerold (Papisa Joana)
Julio ( O Planalto e a Estepe)

Dia 22 – Cite 3 escritores que você gosta. Fale sobre eles.
Donna Woolfolk - ela escreveu Papisa Joana, e isso faz com que eu dispense explicações.
Balzac - ele descreveu a sociedade parisiense. Ponto.
Clarice Lispector - mesmo que não gostem dela, ela é uma boa escritora.

Dia 23 - Com que frequência você lê fora de sua zona de conforto? Você costuma abrir os horizontes para novos escritores, gêneros, países quando o assunto é leitura ou você lê sempre o mesmo dos mesmos?
Eu leio de tudo um pouco. Não tenho uma zona de conforto.

Dia 24 – Cite um livro que você achou que não iria gostar e acabou adorando. Fale sobre ele.
O Guia do Mochileiro das Galáxias, li só o 1º livro e uma parte do 2º . Gostei muito do Marvin (que é um robô), mesmo que ele seja depressivo, ele é depressivo de um jeito divertido.

Dia 25 – Cite um livro que você achou que iria gostar e acabou não gostando. Fale sobre ele. 
Cantos de Outono, como eu já disse, é a depressão profunda em forma de livro.

Dia 26 – Fale de alguns hábitos literários seus. 
Eu leria um livro por dia, mas, tenho que dormir, comer, ir ao banheiro e etc. Ou seja: essas coisas me atrapalham, e muito! haha

Dia 27 – Cite um livro que você gostaria de ler mas que por algum motivo nunca leu. Por quê?
Onze Minutos, Paulo Coelho. Não o li por causa do meu amigo que ainda não foi comprá-lo.

Dia 28 - 5 livros que estão na tua pilha de “vou ler”. 
O Pai Goriot, Balzac.
Leite Derramado, Chico Buarque.
O Morro dos Ventos Uivantes, Emilly Brontë.
O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde.
As Meninas, Lygia Fagundes Telles.

Dia 29 - Qual foi o último livro que você comprou? Fale sobre ele.
Não lembro. :x

Dia 30 - Qual o livro que você leu esse ano que menos gostou? Fale sobre ele.
Cantos de Outono. (Falei no dia 25).

Dia 31 - Qual o livro que você leu esse ano que mais gostou? Fale sobre ele.
Quem adivinhar vai ganhar um doce! Papisa Joana.


Acabou!!!

6 de nov. de 2012

Quem acredita sempre alcança?

Eu prefiro acreditar na simplicidade da vida, mesmo que eu saiba que de simples ela não tem nada. Mas eu posso mudar o meu mundo com os meus conceitos? Sim, posso. E é isso que eu farei. Mesmo que na prática não seja tão simples, vamos admitir que a teoria é bonita. Estou passando por muitos problemas, mais psicológicos que reais. E dentre eles, está o maldito bloqueio e a incessante vontade de afastamento. Ando um pouco afastada de algumas pessoas, até de mim mesma. Eu queria muito saber a razão de tudo isso, mas, não sei. Ou sei e não quero admitir. A única certeza temporária que tenho é a de liberdade. Mesmo que a tal liberdade seja imaginada, mesmo que ela seja uma ideia flutuante dos meus pensamentos.

As sessões de enforcamento não são nada agradáveis. E a cada vez que o mundo me sufoca, me prende com mais força. Me prende em algo disforme e incolor. E a cada novo chute, a dor aumenta. E a cada pensamento inadequado, uma nova pontada no estômago. Onde andará aquele que em tempos passados me iluminou? Para onde ele foi com metade do que eu sou? Para onde ele foi com as minhas certezas, certezas que eu julgava eternas? Em que maldito abismo ele jogou minha paz?

Ele deveria ter me deixado naquela caverna, naquele labirinto. Por lá eu andava com uma luz bruxuleante nas mãos.

3 de nov. de 2012

Sobras

Não há nada de revelante para dizer, ou melhor, eu não quero é transbordar porcarias por aqui. Passei dois dias limpando poeira e jogando uma parte da minha infância mofada no lixo. Sim, no lixo. E eu a jogaria outra vez, sem arrependimento algum. Se eu pudesse, teria queimado tudo aquilo. Como eu queria ter pulado algumas partes da fase que dizem que é a melhor da vida de um ser humano. Como eu queria mudar meu passado, pelo menos apagar parte dele.
Vamos lá, julguem-me! Eu gosto de ser julgada, só para rir da cara dos meus acusadores. Eu gosto de ser assim. Porém, eu não gosto do que eu fui. Mas, dizem que nada acontece por acaso. E eu (feliz ou infelizmente) acredito nisso. Acredito em tantas coisas, e ao mesmo tempo, duvido de tudo. Novamente, julguem-me.
Para acreditar que não sou a única, tive de encontrar o meu espelho. Encontrei-o, e ele é tão embaçado quanto eu. Tão duvidoso e negativo quanto eu. Encontrei-o em mim mesma, para depois procurá-lo pelo mundo. Até que eu achei o fracassado que se diz feliz. Minha alma foi moldada com as sobras da alma dele. Só pode, porque eu nunca encontrei duas pessoas tão sofridas, tão imundas e tão limpas por dentro. Porcaria de produção de almas. Eu ainda tive vontade de me mandar para assistência técnica, mas, almas não podem ser consertadas.

31 de out. de 2012

Vidente

      Quanto tempo faz que eu não te vejo? Eu sempre tenho medo de fazer as contas e me assustar. O tempo tem corrido muito, e eu praticamente te anulei dos meus pensamentos. Porém, nas madrugadas geladas eu sempre sonho contigo. É uma forma de te manter por perto, mesmo que esteja tão longe.
      Você sempre ria do meu ideal de vida. Você falava que ria por me admirar demais. Eu sempre defendi a liberdade, acreditei e ainda acredito na liberdade de todos. O certo é fazer o que o coração pede. Pecado ou não, foi maravilhoso ter feito essa loucura.
      Eu era racional demais, sempre estava me culpando por ter feito isso ou aquilo. Lembra que foi você que me tirou o medo de quebrar regras? Você que me ensinou a esmurrar paredes, defesa pessoal, me ensinou a nadar e centenas de outras coisas. Acho que você não lembra de tudo isso. Mas, pouco importa. Afinal, o teu caminho já estava trilhado, ou você não quis mudá-lo. Eu te entendo, sempre entendi. Pessoas como eu não convivem com pessoas como você. Tão opostos e tão iguais.
      Volta e meia você descrevia um pouco do meu futuro, com um sorriso idiota e olhando pro infinito. Segundo as tuas previsões, quando eu completasse meus trinta anos, eu já deveria estar casada e com uns dois filhos. Eu ri, ri até te deixar constrangido. Ri por saber que isso era completamente impossível. Eu te expliquei que nasci para viver sozinha, então, você me perguntou porque eu estava na sua cama. Eu te disse que não era preciso que você se enganasse ao tentar me enganar. Era só um caso de poucas noites. Acabaria em breve, isso me doía, mas eu não deixava transparecer. Eu estava agindo como se estivesse jogando contigo. Agi como se eu fosse uma pessoa fria, só que eu não era assim. E você sabia disso, tanto quanto eu. Você me conhecia, e poderia me deixar tão frágil como uma criança. Mas é claro que eu nunca permiti. Eu sempre tive mais controle do que eu imaginava.
      Foram uns doze dias juntos, ou quinze, não lembro bem. Depois disso você viajou para um lugar que eu não quis saber o nome. Não sei por onde você anda, eu nunca quis saber. Eu poderia ir atrás de você, eu sei que faria isso se me descontrolasse. Você deve estar muito diferente, se é que ainda está vivo. Isso me dói mais ainda. A ideia de ver você morto sempre me atormentou. E me atormentará para sempre...
      Agora eu estou em uma dessas madrugadas idiotas em que só lembro do meu passado, do nosso passado. Cansada depois de um dia de trabalho, e com uma maldita insônia. Eu já passei dos trinta anos e nunca me envolvi por muito tempo com alguém. Nunca casei, e não tenho filhos. Sabe, eu só queria te ver agora, pra te dizer que você é péssimo em tentar prever o futuro. Eu queria rir da sua cara e te chamar de idiota só mais uma vez. E, de novo, você é um péssimo vidente.

30 de out. de 2012

Traída

      Não há nada de concreto, por enquanto. Porém, segundo os meus cálculos, eu acabo de ser traída por quem prometeu me proteger. E eu que julgava conhecê-lo. Se eu realmente possuísse o poder de adentrar na alma das pessoas, certamente eu não estaria tão ferrada quanto estou. Por mais que eu tenha tentado, não posso tornar-me uma pessoa fria. Não eu. Não posso transformar-me naquilo que eu mais repudiei. A ânsia do ódio percorre as minhas veias, o desejo de acabar comigo mesma é insistente. Meu estômago se contorce com uma náusea provocada pelo nojo. É inútil, não consigo odiar.
      Por mais que eu tente odiar, é impossível. Mesmo que eu ache que cada ato é o último. Essa pode ser a minha última madrugada. Esse pode ser o meu último texto. Mesmo que seja o último piscar de olhos, o último sorriso, a última pronúncia do nome dele. Meu coração dói, se despedaça. Tenta se recompor, tenta se regenerar. É inútil, meu coração já foi atingido, minhas costelas também foram. Estou zonza, com a visão embaçada e tudo está escurecendo. Meu braços estão formigando, minhas mãos estão ficando geladas. Como eu detestava o cheiro forte de sangue. Outro tiro. Eu não clamo por piedade, não mais. Não há nada que se possa fazer. Eu falo algo, lanço pragas para o meu assassino. Eu ainda não o odiei.
      O céu parece mais iluminado, só aquela luz amarela. Eu irei para o céu? Não, eu não mereço. Era apenas o sol. Outro tiro. Dessa vez meu estômago foi atingido. Como eu ainda estou viva? Ninguém o detém. Gritos e mais tiros, alguém o matou. Eu ainda estou viva! Porém, eu não escaparei. Alguém me abraça e chora, mas eu não reconheço a voz. Não eram meus pais, não eram nenhum dos meus amigos. Meu amado apareceu nos últimos minutos, chegou na hora certa. Eu não tenho mais salvação, mesmo que ele diga que ficará tudo bem. Ele está encharcado com o meu sangue. Eu digo que o amo, mesmo com a voz fraca. Ele conseguiu entender, falou que me amava também. Ele chegou na hora certa, eu ainda consegui dizê-lo o que eu realmente sentia. Minha missão era essa: amá-lo. Eu ouço os gritos dele, ele grita o meu nome. A voz dele está muito distante. Morri.

23 de out. de 2012

Telespectadores

      Era mais uma noite de julho, as luzes da rua estavam queimadas. Não havia acontecido nada de extraordinário até então. Até que um estrela caiu, porém, há muitos anos eu não fazia pedidos. Mesmo com pouca idade eu já tinha uma mentalidade de escritora, já não via tanta inocência no mundo. Eu sofri muito com essa fase, mas as coisas sempre podem piorar. E pioraram.
      O motoqueiro surgiu na minha vida depois das 22:00 h, numa noite estrelada e para nunca mais sair. Tatuado, com um olhar profundo, com muitos sorrisos. Ora parecia um anjo, ora um demônio. Amante do perigo, impulsivo e um pouco descontrolado. Esse era ele, com seus 31 anos muito bem sofridos. De imediato ele não me encantou, não encantaria ninguém. Eu zombava dele, o desprezava. Mas, o tal olhar profundo guardava algo familiar. Algo que eu não descobri de cara.
      Mas eu o conheci, despi sua alma, deixei-o transparente aos meus olhos. Imundo, ele era imundo. Tinha uma alma carregada e uma mente culpada. Cheio de remorsos, remorsos inúteis. Traumatizado, ele carregava um coração cheio de traumas incuráveis. Eu nunca havia sentido tanta vontade de curar alguém, mesmo que nada pudesse fazer. Ele choraria com qualquer afago, então eu evitei aproximações.
      Ele me trouxe muitas decepções com os atos por ele cometidos. Eu o perdoei por ter aquele passado. Eu o amava, descobri tardiamente. Já não consegui afastá-lo. Correspondi os sorrisos dele com uma doçura que eu nem imaginava ter. Minha voz mudava com a aproximação dele, como disse Balzac: "O amor já está no tom de voz, muito antes que seja confessado pelo olhar." Sim, minha voz mudava. Se tornava doce, baixa, uma voz de ouvir e sorrir imediatamente. Maldito tom de voz.
      Não era uma máscara, nem jogo de duas caras, era uma mudança de estado de espírito. Com ele, minha alma ficava em estado de graça. Ele também se transformava, era uma espécie de comunicações de pensamentos. Comunicação alienígena. Era estranho, ainda é.
      Os poucos que sabiam da história julgavam como amor de outras vidas. Eu pensei na hipótese, mas, não acreditei. O que eu mais fiz depois de conhecê-lo foi pensar. Mudei conceitos, reformulei pensamentos e passei tudo para um papel. Ele foi o meu maior impulso para começar a escrever, eu já possuía o dom, só faltava a inspiração. Por isso que eu nunca o odiarei, mesmo que já tenha tentado.
      Assim como no início, eu continuo evitando aproximações. Os anos passaram, cada um tomou seu rumo. Um cuidando do outro, seja por pensamentos, orações, o que for. Claro que o amor ainda existe, só que amadureceu. Mas, está bom assim. Nós dois estamos contentes como telespectadores, cada um na platéia da vida do outro.

22 de out. de 2012

Teatro vazio

      Ela caminhava sem medo algum pelos camarins escuros do teatro, apreciando cada detalhe que não conseguia distinguir. Foi ao palco, lugar onde nomes ilustres colocaram seus pés cansados. Ela pisou em um chão cheio de histórias, amores, ódios, frustrações e todo um emaranhado de sentimentos. A menina sempre teve um olhar apurado e um coração mais sensível que os demais...
      Não, ela nunca quis ser bailarina, muito menos atriz. Mas, gostava de todo o peso das paredes daquele teatro. Dos assistentes à platéia, tudo a encantava. Pra ser sincera, aquele teatro era uma espécie de paraíso mascarado. Um depósito de sonhos e imundícies.
      Não foi nada fácil para ela permanecer ali, escondida em uma parte oca de uma parede até que os aplausos cessassem, até que a última bailarina tomasse o seu rumo. Até que restassem apenas uma meia dúzia de porteiros na entrada do enigmático teatro. Foi um sacrifício, um ótimo sacrifício.
      O teatro era encantador, sim. Ao mesmo tempo em que era fantasmagórico. Um lugar repleto de falcatruas imundas e de sonhos destruídos por atos mais imundos ainda. Tudo acontecera entre aquelas paredes. O teatro carregava em seus poros o sangue de muitas almas, inocentes almas que pensavam que aquela construção esplendorosa guardava apenas maravilhas. Coitadas.
      Ela ouvira falar, que há anos atrás aconteceram dezenas de homicídios naquele teatro. Ao lembrar disso ela quase conseguiu ouvir os gritos das pessoas sendo assassinadas, o odor do sangue, a dor e a impunidade. Ela sentiu o cheiro enjoativo de maconha, que impregnava as cortinas e deixava o ar pesado; provavelmente, entre todas aquelas pessoas depressivas, haviam viciados em drogas e coisas inimagináveis. Ela escutou passos que não existiam, ou existiam. Passos de espíritos, almas presas naquele lugar que se parecia com algo familiar. Algo que ela desejava conhecer... O teatro vazio era quase uma alma humana.