19 de fev. de 2013

É só um par de olhos, nada mais

Ficou difícil caminhar com os teus olhos me observando... Então, eu fico encostada na janela, um pouco escondida. Invejando as garotas que passam pela rua de manhã cedo, para irem ao trabalho. Sei lá, são tão leves que dá vontade de trocar de lugar. Daí lembro que não existem vidas fáceis, só as vazias. E eu sou do clube das almas cheias, fartas de praticamente tudo. Sou uma caixa d'água destampada que transborda com a água da chuva. (Bela metáfora, eu sei.)

Ficou difícil caminhar com os teus olhos me observando... Não fui à escola hoje. E que se fodam as provas da semana seguinte. Não estou no clima pra aguentar aquele mar de gente rindo, fazendo piadas idiotas sobre... sei lá... sobre a chuva, o frio, o que for. Tá meio que difícil viver, com os teus olhos me observando. Só não estou bem psicológica e corporalmente. (Dizem as más/boas línguas que isso é período astrológico, mas nem acredito muito nisso, então...) Sei lá, está muito difícil de caminhar com essas unhas encravadas que já nem doem mais. Meus pés doem quando pisam no colchão macio, mas sinto-me flutuando quando piso em brasas quentes. Metáforas são perigosas, e eu sei disso desde sempre.

Larguei os livros nesses últimos dias. Será por isso? Não, não, não. É só uma (mais uma) coincidência idiota da vida. As coisas andam erradíssimas ultimamente. Quando é dia de comemorar meu aniversário, as coisas ficam bem tensas. Só que nesse ano eu eu recebi uma prévia, e dois meses antes do dia fatídico do meu nascimento. Não tá fácil pra ninguém. 

Só vomitei isso aqui. Nem faz sentido pra você, eu sei. Comecei a escrever sobre um par de olhos que estão me perseguindo, só que me perdi depois da primeira frase. Mas a vida continua, enquanto eu estiver respirando, claro. E sempre, sempre poderei voltar ao começo.

13 de fev. de 2013

Thay

Apenas um copo d'água, cheio e idiota. Apenas uma mesa de restaurante, com uma garota sentada. São apenas garçons soltando piadinhas idiotas para a universitária bonita, que está mais preocupada em ler um romance do que com o resto do mundo. "Eu ainda mudarei esse mundo." Esse é o objetivo da universitária de óculos que já foi confundida com louca. Quer dizer, ela já foi louca, já foi idiota, já foi sonhadora demais, já foi boba. Hoje é realista, confundida com pessimista. Pobre mundo que duvida dela.

Pobres pessoas que confundem a dor dela com revolta. Doeu crescer, deve doer em todo mundo, mas sempre disseram que ela é a única em sua dor. Única em sua idiotice, em sua bobagem por querer ser criança outra vez. Nostalgia boba, eu sei. Ela também sabe. Ela também odeia, e sente vontade de jogar a mesa pro alto, e sair pisando firme, e chorar pra rir depois. Ela tem que ser perfeita, tem que ter todo o corpo "no lugar", tem que tratar as estrias e celulites. Pobre mundo que pensa que ela fará isso. Coitada da sociedade, que implorará até morrer. Feminista? Talvez, ainda em formação. Talvez a cabeça dela seja imatura demais para assumir tanta pressão. Mas tanto faz, ela sabe o que quer pra si, o que quer mudar no mundo. Sabe que é forte o bastante para mudar, para apanhar dos policias que impeçam seus futuros protestos, para rir da cara dos rapazes machistas que apareçam pelo seu caminho, para fazer tudo como o seu coração manda.

Thay já existe, já respira entre nós. Deve estar agora grudada em um livro, no seu apartamento de dois cômodos, com seu gato preto aos seus pés. Sim, ele é preto de propósito, para que os outros digam que ela é esquisita, e que tem 80 anos mentais, e que ficará "pra titia", e blá-blá-blá-morra-se-não-gostar. Thay está fazendo anotações em um dos vários cadernos, com os óculos escorregando pelo nariz, sorrindo sem saber por qual motivo. Sorrindo para si mesma, e para o mundo que não sabe que ela está lá. Thay existe, e eu tenho fé que ela seja assim. Ela não me disse palavra alguma, nem me sorriu. Apenas olhou nos meus olhos enquanto eu tomava café naquele restaurante agitado. E o olhar dela me disse tudo, me disse que ela mudará o mundo. E eu acreditei.

4 de fev. de 2013

Apenas o espaço vazio

Eu precisei soltar os cabelos depois que te conheci. Precisei sentir o vento tocar meu corpo, precisei sentir uma liberdade desconhecida, precisei sentir algo novo. Tive que mudar. Precisei abandonar os óculos escuros, tirar a escuridão dos meus olhos, a agressividade da expressão, o orgulho ao caminhar. Precisei retirar todo o peso que havia em mim.

Nada é garantido, eu sei. Você pode ser apenas o espaço vazio entre duas palavras, só uma trégua da guerra onde vivo. Pode ser só alguém que chegou, mas terá que partir. Ou não. Afinal, nunca se sabe. Mas tenho medo de que você não seja forte o bastante para suportar minhas loucuras, meus impulsos, e outras tantas particularidades que possuo. Tenho medo que você não entenda meus isolamentos que acontecem vez ou outra. Às vezes fico calada, trêmula, me encolho de frio. Sinto frio quando faz frio em minha alma, nada está relacionado com a temperatura que está fazendo em um lugar x. Tenho medo, medo de que você não consiga entender isso.

E enquanto permaneço com toda essa dúvida, você está em algum lugar, respirando o mesmo ar que eu, pensando em outro alguém. 


3 de fev. de 2013

Das coisas que eu não deveria escrever

Então o dia já está quase chegando, o sol ainda não surgiu, mas mostra um pouco dos seus raios. Ainda estou acordada, com um olho irritado e um frio indizível. O sono aparece, eu o mando embora. Ele e suas palavras malucas, seus desejos exagerados, sua naturalidade pra falar sobre qualquer coisa. Lembramos do ontem, do ontem que foi o melhor dia das nossas vidas. Das palavras erradas e outras que não foram ditas. Dos enganos iniciais e das surpresas do presente. Dos convites, e outros convites. E do silêncio.

Estou aqui, com as coisas espalhadas pelo quarto, com uma folha escrita. Nossa, a prova de Química! Estudei pouco, mas estudei ontem, estudarei um pouco mais amanhã. Esmaltes espalhados pela mesa, livros na cama. E um corpo no meio de toda essa bagunça, e uma alma vivendo dentro desse corpo. Boa parte das coisas ficam no chão, fruto do furacão que sou. Tudo o que me pertence sempre cai no chão, se joga, pula para o infinito. E eu permaneço olhando para o teto, sou metade peso, metade leveza. 

E me vejo no meu interior, na fábrica de sonhos que sou. Sou transparente como não queria ser. Sou transparente por causa das letras, por isso estava com medo de encarar uma folha de papel outra vez. E me vejo abaixada, com medo dos tiros. E me vejo menina, com medo de cair. E me vejo mulher, com medo de permanecer em pé. E me vejo chorando em frente ao espelho, depois que não me vejo mais.

Depois me vejo sorrindo, me vejo de coração acelerado, sem um mundo perturbador lá fora. E ouço o som do silêncio, do silêncio que não existia. Mas ele fez esse silêncio existir. Então, me vejo com medo de que não dure sempre. Me sinto idiota por pensar assim, lembro que dizem que sempre existirão outros. Depois lembro que isso não é verdade. Eu lembro de tudo.

Eu nunca sei se é verdade, nunca sei se é apenas uma brincadeira besta. Ainda bem que ele já interpretou algumas frases. Ainda bem que ele tirou algumas das minhas dúvidas.

O cansaço da alma, da alma que é um não sei o quê que só cansa de contemplar o corpo, que só cansa de ouvir o corpo. A alma é pura, mesmo que eu não queira. É só a alma que sofre, sofre o que eu não sofro. O vento é apenas uma brisa, uma brisa que entrou de leve e sussurrou no meu ouvido. Brisa que trouxe estrelas, trouxe sonhos, promessas e alguns medos. Pena que ainda sou uma menina que deita no chão frio para ler um livro. 

E tudo o que tenho está jogado, tudo está no chão. Minhas coisas atormentaram-se com a dúvida e a mentira. O que possuo não é tão forte quanto eu. Eu ainda consigo ser o peso entre tanta leveza.

Ainda consigo sentir o beijo que me prendeu na realidade, ainda sinto o cheiro que me tirou da realidade. Ainda sinto tudo, amor. Pena que sou desastrada e complicada demais, assim como ele. Pena que não sou o  oposto dele. Eu já senti tudo, já sonhei com tudo. Falta ouvir uma velha frase que só os apaixonados dizem, falta estar ao lado dele mais uma vez. Acho que ele me prenderá no mundo que nunca vivi. 

E o medo que me expulsa do abismo é do mesmo tamanho da coragem que me leva até ele.

1 de fev. de 2013

(in)constante

Todos os dias minhas palavras somem, todos os dias quero ver o que dizem as tuas palavras. Afundo cada vez mais na tua dúvida. Esqueço das outras coisas que eu fazia, esqueço da rotina monótona que tinha. Afundo cada vez mais com os nossos livros. Procuro subir em alguma escada que me deixe entre as estrelas, que me deixe perto da lua... Deixo que minha alma contemple meu corpo, depois apago. Fico muda, me transformo em outra. Mas não esqueço que todos os dias fico mais perto do abismo. Sei que mais cedo ou mais tarde irei saltar. Só pra ver se há alguma beleza nos hematomas...