22 de out. de 2012

Teatro vazio

      Ela caminhava sem medo algum pelos camarins escuros do teatro, apreciando cada detalhe que não conseguia distinguir. Foi ao palco, lugar onde nomes ilustres colocaram seus pés cansados. Ela pisou em um chão cheio de histórias, amores, ódios, frustrações e todo um emaranhado de sentimentos. A menina sempre teve um olhar apurado e um coração mais sensível que os demais...
      Não, ela nunca quis ser bailarina, muito menos atriz. Mas, gostava de todo o peso das paredes daquele teatro. Dos assistentes à platéia, tudo a encantava. Pra ser sincera, aquele teatro era uma espécie de paraíso mascarado. Um depósito de sonhos e imundícies.
      Não foi nada fácil para ela permanecer ali, escondida em uma parte oca de uma parede até que os aplausos cessassem, até que a última bailarina tomasse o seu rumo. Até que restassem apenas uma meia dúzia de porteiros na entrada do enigmático teatro. Foi um sacrifício, um ótimo sacrifício.
      O teatro era encantador, sim. Ao mesmo tempo em que era fantasmagórico. Um lugar repleto de falcatruas imundas e de sonhos destruídos por atos mais imundos ainda. Tudo acontecera entre aquelas paredes. O teatro carregava em seus poros o sangue de muitas almas, inocentes almas que pensavam que aquela construção esplendorosa guardava apenas maravilhas. Coitadas.
      Ela ouvira falar, que há anos atrás aconteceram dezenas de homicídios naquele teatro. Ao lembrar disso ela quase conseguiu ouvir os gritos das pessoas sendo assassinadas, o odor do sangue, a dor e a impunidade. Ela sentiu o cheiro enjoativo de maconha, que impregnava as cortinas e deixava o ar pesado; provavelmente, entre todas aquelas pessoas depressivas, haviam viciados em drogas e coisas inimagináveis. Ela escutou passos que não existiam, ou existiam. Passos de espíritos, almas presas naquele lugar que se parecia com algo familiar. Algo que ela desejava conhecer... O teatro vazio era quase uma alma humana.


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