29 de nov. de 2013

Caminhos inexatos

Quinze pr'as seis da manhã.

 Já não me importo. Não tanto como antes. Os dias não são iguais. Tudo é tão mutável para mim e, aos olhos dos outros, tudo é sempre o mesmo. A luz do Sol projetada nas folhas das árvores, nos muros das casas, na fumaça dos carros. A mesma mulher loira cruza comigo no caminho da escola desde quando eu tinha nove anos. Não sei seu nome, ela não sabe o meu. Ela envelheceu um pouco, eu cresci e minha alma já não é mais a mesma. São sempre as mesmas manhãs, o mesmo ar impuro acabando com os meus pulmões e quase as mesmas pessoas passando por mim. O mesmo calor morno, o mesmo suor escorrendo no meu rosto. A mesma pressa inocente, os mesmos passos decididos. Mas tudo tão diferente, tão novo e tão estranho aos meus olhos. Às vezes, o céu escurece e cai uma chuva fininha. As pessoas fogem e eu quero mais estar no meio da rua, sentindo o frio dos pingos de chuva.

Onze e quarenta da manhã.

Sol escaldante. Planos mirabolantes para uma tarde que só me cansará. Carros, carros, carros, um olhar. Olhares fortes e algumas pessoas vazias. Pressa, sempre a pressa do meu coração vadio.


Madrugada

Overdose
Superdose
Mais uma dose do teu delírio
Mais uma dose da tua boca
Mais um segundo do teu olhar
Alguns segundos
Pequenos instantes
Alguns pares de horas nos unindo
A tua boca me sorrindo
O chão se abrindo
O teu corpo me falando
Estrangeiro sentimento
Doce acalento
Overdose
Superdose do nosso caos
O sal das lágrimas
O sal das horas
O fel do medo
Medo nos dedos
Entalado na garganta
A pureza de qualquer amor
Absurdo impossível
Sentimento impossível
Negação quase impossível
Sentimento estampado na cara
A lágrima escorrendo dos olhos
A lágrima escolhendo o caminho
Uma gota explorando o meu rosto
Vozes sufocando meu coração
Luzes cegando meus olhos
Lágrimas abrindo espaço
Overdose da tua superdose de ser
A tua intensidade me infectando
Meu coração, alma
A overdose fazendo efeito
Minha mente que não sente
Não escolhe
Só possuo minha fé
Superdose de sentimentos
O exagero das nossas almas
Não sei se é sério
Ou sono.

23 de nov. de 2013

Inefável - Prefácio


O prefácio - ainda inacabado - de Inefável. O livro que não pude terminar de escrever no mês de novembro por motivos escolares. Porém, ainda continua vivo, pulsando junto com o meu coração.
Sou uma pessoa de variados nomes, de variados sentimentos e inúmeras insatisfações. Não consigo ter um só nome, já que tantas pessoas moram em mim. Não gosto de nomes, prefiro os pronomes; só não posso dizer que amo incondicionalmente qualquer coisa que conste em uma gramática. Ajo de variadas formas e acredito que não sou uma única alma, um único corpo. Nasci mulher, mas minhas ações não são unicamente de uma mulher, de humana. Posso ser um bicho que se sente ser humano, ainda não sei. Nasci e aqui estou, escrevendo e existindo. Mas não sei se existo como as outras pessoas existem, também não sei como elas existem. Batizaram-me como Lygia, uma menina pequena, nascida quase morta. Da morte recebi um beijo e um aviso, senti seu hálito quente quando sussurrou no meu ouvido. De Deus recebi o direito de viver, mas não sei como existir, não sei como encontrar as luzes que deveriam me guiar. Não consigo explodir quando estou rodeada de silêncio e calor. Busco em amuletos a minha sorte, mesmo que não consiga acreditar neles. Calculei meus passos, mas cansei da exatidão tão sonhada. Mandam e desmandam e esquecem que eu ainda possuo o livre-arbítrio e ele devo seguir; seguir a minha falta de direção. Talvez a vida seja motor. O mundo é uma variedade de caminhos. Eu vivo para quem? 

 Vivo dias aparentemente banais, que são recheados de uma complexidade incompreensível. Ajusto relógios que não funcionam mais, elejo governantes sem que haja eleição. Vivo entre a loucura e a sanidade, não sei o que posso esperar de uma existência tão confusa. Observo detalhes, me apaixono por eles e ninguém acredita nesse sentimento. Sofro nas ruas, o sofrimento de vários agressores anônimos. 

 Abandonei tudo que me disseram ser necessário. Essa é a história de alguém que desistiu de coisas banais para entregar-se ao próprio mundo. Alguém que não teve sorte de encontrar um amor tranquilo. Há o medo e o medo de sentir medo. Há o medo e o medo dos julgamentos. Vontade de ser e explodir de tanto existir. Tenho vontade de abreviar a minha vida e desistir, finalmente descobrir se há um céu. 

19 de nov. de 2013

Fim de tarde

Por que não apenas sobrevivo
Assim como os outros?
Por que eu vivo
Como poucos?
Todos tão felizes
Com seus sorrisos fáceis
E eu vivo, quase sozinha
Entre tantos sobreviventes
Sobrevivem à margem da realidade
E vivo sentindo dor
A dor dos que não sentem
Vivo assim, sozinha.
Sofrendo atrás dos óculos
Escondendo os olhos
Escondendo as lágrimas
Disfarçando-as
Nomeando-as alegres.
Eu, triste.
Vivendo.

16 de nov. de 2013

Diário #1

Nunca tive um fim de semana tedioso, minha mente nunca está calma, não fico sentada em poltronas nas tardes de domingo. Não é uma dádiva. Nunca tive um dia perfeito, algumas horas e só. O mundo nunca é bom o bastante. Basta abrir um jornal on-line que encare o mundo com o mínimo de seriedade. Basta ter começado a brincar de sentir a dor dos outros e nunca mais parar. Ser como Drummond, ter duas mãos e o sentimento do mundo. Ser como Tarsila, amar as cores vibrantes que rotularam como feias. Ser como Leila Diniz, livre para ser mulher em uma sociedade de homens. Ser como os que vivem, não os que sobrevivem.

Quinze e dezenove

Meu peito vai explodir Mais escandaloso que sua bolha de sabão Minha bolha é quase nada Quase nada, quase tudo Representação dos extremos "O peso e a leveza" A postos, sempre os mesmos A dor e o delírio Os limites da (in)sanidade Como uma parede cinza em todo e cada amanhecer Se tocam e gritam Pr'o oco e pr'o ócio Pr'o infinito Que é bonito E necessário Se doer pr'a se viver Se não doer Haverá um vazio em cada você Que não há cor nem amor Que não há ar nem sonhar Que complete o teu ser E há sempre uma gota que me transborde Um alguém que me modifique Uma vida que me transforme, apesar do caos Que me mostre e eu goste que é no meio da loucura que se conhece a lucidez Que eu lembre que há tanta falsidade na polidez Que eu lembre que o recomeço sabe quando é a sua vez.

- Milena Moreira e Gleanne Rodrigues.

15 de nov. de 2013

Nove

Me tira o peso desse dia
Me mostra essa leveza sem fantasia
Um toque de nostalgia

Encanta-me com a tua dor
Que me dói com o mesmo horror
Que contempla com o mesmo esplendor

Aumenta os minutos dessa hora
Me faz esquecer do que há lá fora
Do que acontece agora

Visão
Paixão
Evolução

Diz que ainda te sirvo de guia
Que sou uma amnésia da tua dor
Que teu amor não me ignora

Ah! Admiração.

4 de nov. de 2013

Inefável?

Novembro chegou com uma surpresa muito agradável: o NaNoWriMoBr. É um desafio, com o simples objetivo de escrever um livro de 50.000 palavras em um mês. E claro, entrei nessa. Como é de se esperar, estarei ausente durante todo o mês de novembro para escrever Inefável, mais um dos meus livros. O desafio foi um empurrão para realizar meu sonho de escrever um livro, já que sempre desisto antes de completar três capítulos de uma história.

Para que vocês matem a curiosidade, segue um trecho do terceiro capítulo:

"Mas consigo levantar da cama onde estou, consigo caminhar e fitar-me no espelho. Ali encontro um corpo nu, quase magro, quase perfeito. Encontro um par de olhos castanhos, na boca uma cicatriz. Tento mudar a luz de posição e procuro um ângulo de iluminação onde eu consiga me enxergar. A fome massacra meu estômago, mas não consigo sair da frente do espelho. Subitamente, encontrar um reflexo, que não é fiel ao que sou. Encontrei meu eu distorcido, encontrei o corpo onde nunca habitei. Pareço ser uma alma desgarrada, é difícil acreditar que eu esteja viva, que me rotulem como humana. Serei eu uma louca? Observando o próprio corpo, suas cicatrizes e marcas dos poucos anos vividos. Curvas e mais curvas, meu corpo é uma estrada sinuosa. Tenho teto e paredes e minha sinuosidade, um corpo que não reconheço e beijos que nunca recebi. Tenho sonhos e nuvens duvidosas que passam por mim.

São ameaças de morte que circulam em uma bicicleta, ameaças de um homem loiro como um nazista, alguém que prometeu vir amanhã para acordar meus pesadelos. Alguém que pode me anular, deixar minhas dúvidas mortas com meu corpo. Mesmo que eu não saiba quem sou, tenho medo de receber outro sussurro da morte e dela ouvir a palavra final. Ódio gratuito que nele ficou gravado, ódio que pode me levar ao inferno. Mas o ódio não é garantia, prefiro acreditar em algo além da eternidade. "