31 de out. de 2012

Vidente

      Quanto tempo faz que eu não te vejo? Eu sempre tenho medo de fazer as contas e me assustar. O tempo tem corrido muito, e eu praticamente te anulei dos meus pensamentos. Porém, nas madrugadas geladas eu sempre sonho contigo. É uma forma de te manter por perto, mesmo que esteja tão longe.
      Você sempre ria do meu ideal de vida. Você falava que ria por me admirar demais. Eu sempre defendi a liberdade, acreditei e ainda acredito na liberdade de todos. O certo é fazer o que o coração pede. Pecado ou não, foi maravilhoso ter feito essa loucura.
      Eu era racional demais, sempre estava me culpando por ter feito isso ou aquilo. Lembra que foi você que me tirou o medo de quebrar regras? Você que me ensinou a esmurrar paredes, defesa pessoal, me ensinou a nadar e centenas de outras coisas. Acho que você não lembra de tudo isso. Mas, pouco importa. Afinal, o teu caminho já estava trilhado, ou você não quis mudá-lo. Eu te entendo, sempre entendi. Pessoas como eu não convivem com pessoas como você. Tão opostos e tão iguais.
      Volta e meia você descrevia um pouco do meu futuro, com um sorriso idiota e olhando pro infinito. Segundo as tuas previsões, quando eu completasse meus trinta anos, eu já deveria estar casada e com uns dois filhos. Eu ri, ri até te deixar constrangido. Ri por saber que isso era completamente impossível. Eu te expliquei que nasci para viver sozinha, então, você me perguntou porque eu estava na sua cama. Eu te disse que não era preciso que você se enganasse ao tentar me enganar. Era só um caso de poucas noites. Acabaria em breve, isso me doía, mas eu não deixava transparecer. Eu estava agindo como se estivesse jogando contigo. Agi como se eu fosse uma pessoa fria, só que eu não era assim. E você sabia disso, tanto quanto eu. Você me conhecia, e poderia me deixar tão frágil como uma criança. Mas é claro que eu nunca permiti. Eu sempre tive mais controle do que eu imaginava.
      Foram uns doze dias juntos, ou quinze, não lembro bem. Depois disso você viajou para um lugar que eu não quis saber o nome. Não sei por onde você anda, eu nunca quis saber. Eu poderia ir atrás de você, eu sei que faria isso se me descontrolasse. Você deve estar muito diferente, se é que ainda está vivo. Isso me dói mais ainda. A ideia de ver você morto sempre me atormentou. E me atormentará para sempre...
      Agora eu estou em uma dessas madrugadas idiotas em que só lembro do meu passado, do nosso passado. Cansada depois de um dia de trabalho, e com uma maldita insônia. Eu já passei dos trinta anos e nunca me envolvi por muito tempo com alguém. Nunca casei, e não tenho filhos. Sabe, eu só queria te ver agora, pra te dizer que você é péssimo em tentar prever o futuro. Eu queria rir da sua cara e te chamar de idiota só mais uma vez. E, de novo, você é um péssimo vidente.

30 de out. de 2012

Traída

      Não há nada de concreto, por enquanto. Porém, segundo os meus cálculos, eu acabo de ser traída por quem prometeu me proteger. E eu que julgava conhecê-lo. Se eu realmente possuísse o poder de adentrar na alma das pessoas, certamente eu não estaria tão ferrada quanto estou. Por mais que eu tenha tentado, não posso tornar-me uma pessoa fria. Não eu. Não posso transformar-me naquilo que eu mais repudiei. A ânsia do ódio percorre as minhas veias, o desejo de acabar comigo mesma é insistente. Meu estômago se contorce com uma náusea provocada pelo nojo. É inútil, não consigo odiar.
      Por mais que eu tente odiar, é impossível. Mesmo que eu ache que cada ato é o último. Essa pode ser a minha última madrugada. Esse pode ser o meu último texto. Mesmo que seja o último piscar de olhos, o último sorriso, a última pronúncia do nome dele. Meu coração dói, se despedaça. Tenta se recompor, tenta se regenerar. É inútil, meu coração já foi atingido, minhas costelas também foram. Estou zonza, com a visão embaçada e tudo está escurecendo. Meu braços estão formigando, minhas mãos estão ficando geladas. Como eu detestava o cheiro forte de sangue. Outro tiro. Eu não clamo por piedade, não mais. Não há nada que se possa fazer. Eu falo algo, lanço pragas para o meu assassino. Eu ainda não o odiei.
      O céu parece mais iluminado, só aquela luz amarela. Eu irei para o céu? Não, eu não mereço. Era apenas o sol. Outro tiro. Dessa vez meu estômago foi atingido. Como eu ainda estou viva? Ninguém o detém. Gritos e mais tiros, alguém o matou. Eu ainda estou viva! Porém, eu não escaparei. Alguém me abraça e chora, mas eu não reconheço a voz. Não eram meus pais, não eram nenhum dos meus amigos. Meu amado apareceu nos últimos minutos, chegou na hora certa. Eu não tenho mais salvação, mesmo que ele diga que ficará tudo bem. Ele está encharcado com o meu sangue. Eu digo que o amo, mesmo com a voz fraca. Ele conseguiu entender, falou que me amava também. Ele chegou na hora certa, eu ainda consegui dizê-lo o que eu realmente sentia. Minha missão era essa: amá-lo. Eu ouço os gritos dele, ele grita o meu nome. A voz dele está muito distante. Morri.

23 de out. de 2012

Telespectadores

      Era mais uma noite de julho, as luzes da rua estavam queimadas. Não havia acontecido nada de extraordinário até então. Até que um estrela caiu, porém, há muitos anos eu não fazia pedidos. Mesmo com pouca idade eu já tinha uma mentalidade de escritora, já não via tanta inocência no mundo. Eu sofri muito com essa fase, mas as coisas sempre podem piorar. E pioraram.
      O motoqueiro surgiu na minha vida depois das 22:00 h, numa noite estrelada e para nunca mais sair. Tatuado, com um olhar profundo, com muitos sorrisos. Ora parecia um anjo, ora um demônio. Amante do perigo, impulsivo e um pouco descontrolado. Esse era ele, com seus 31 anos muito bem sofridos. De imediato ele não me encantou, não encantaria ninguém. Eu zombava dele, o desprezava. Mas, o tal olhar profundo guardava algo familiar. Algo que eu não descobri de cara.
      Mas eu o conheci, despi sua alma, deixei-o transparente aos meus olhos. Imundo, ele era imundo. Tinha uma alma carregada e uma mente culpada. Cheio de remorsos, remorsos inúteis. Traumatizado, ele carregava um coração cheio de traumas incuráveis. Eu nunca havia sentido tanta vontade de curar alguém, mesmo que nada pudesse fazer. Ele choraria com qualquer afago, então eu evitei aproximações.
      Ele me trouxe muitas decepções com os atos por ele cometidos. Eu o perdoei por ter aquele passado. Eu o amava, descobri tardiamente. Já não consegui afastá-lo. Correspondi os sorrisos dele com uma doçura que eu nem imaginava ter. Minha voz mudava com a aproximação dele, como disse Balzac: "O amor já está no tom de voz, muito antes que seja confessado pelo olhar." Sim, minha voz mudava. Se tornava doce, baixa, uma voz de ouvir e sorrir imediatamente. Maldito tom de voz.
      Não era uma máscara, nem jogo de duas caras, era uma mudança de estado de espírito. Com ele, minha alma ficava em estado de graça. Ele também se transformava, era uma espécie de comunicações de pensamentos. Comunicação alienígena. Era estranho, ainda é.
      Os poucos que sabiam da história julgavam como amor de outras vidas. Eu pensei na hipótese, mas, não acreditei. O que eu mais fiz depois de conhecê-lo foi pensar. Mudei conceitos, reformulei pensamentos e passei tudo para um papel. Ele foi o meu maior impulso para começar a escrever, eu já possuía o dom, só faltava a inspiração. Por isso que eu nunca o odiarei, mesmo que já tenha tentado.
      Assim como no início, eu continuo evitando aproximações. Os anos passaram, cada um tomou seu rumo. Um cuidando do outro, seja por pensamentos, orações, o que for. Claro que o amor ainda existe, só que amadureceu. Mas, está bom assim. Nós dois estamos contentes como telespectadores, cada um na platéia da vida do outro.

22 de out. de 2012

Teatro vazio

      Ela caminhava sem medo algum pelos camarins escuros do teatro, apreciando cada detalhe que não conseguia distinguir. Foi ao palco, lugar onde nomes ilustres colocaram seus pés cansados. Ela pisou em um chão cheio de histórias, amores, ódios, frustrações e todo um emaranhado de sentimentos. A menina sempre teve um olhar apurado e um coração mais sensível que os demais...
      Não, ela nunca quis ser bailarina, muito menos atriz. Mas, gostava de todo o peso das paredes daquele teatro. Dos assistentes à platéia, tudo a encantava. Pra ser sincera, aquele teatro era uma espécie de paraíso mascarado. Um depósito de sonhos e imundícies.
      Não foi nada fácil para ela permanecer ali, escondida em uma parte oca de uma parede até que os aplausos cessassem, até que a última bailarina tomasse o seu rumo. Até que restassem apenas uma meia dúzia de porteiros na entrada do enigmático teatro. Foi um sacrifício, um ótimo sacrifício.
      O teatro era encantador, sim. Ao mesmo tempo em que era fantasmagórico. Um lugar repleto de falcatruas imundas e de sonhos destruídos por atos mais imundos ainda. Tudo acontecera entre aquelas paredes. O teatro carregava em seus poros o sangue de muitas almas, inocentes almas que pensavam que aquela construção esplendorosa guardava apenas maravilhas. Coitadas.
      Ela ouvira falar, que há anos atrás aconteceram dezenas de homicídios naquele teatro. Ao lembrar disso ela quase conseguiu ouvir os gritos das pessoas sendo assassinadas, o odor do sangue, a dor e a impunidade. Ela sentiu o cheiro enjoativo de maconha, que impregnava as cortinas e deixava o ar pesado; provavelmente, entre todas aquelas pessoas depressivas, haviam viciados em drogas e coisas inimagináveis. Ela escutou passos que não existiam, ou existiam. Passos de espíritos, almas presas naquele lugar que se parecia com algo familiar. Algo que ela desejava conhecer... O teatro vazio era quase uma alma humana.


21 de out. de 2012

Rascunho qualquer

      Eu tenho mãos inábeis e um cérebro totalmente ativo. Meus objetivos que eram duvidosos, se enchem de esperanças. Estou me aproximando da certeza. Nasci para fazer o que escolhi, embora eu saiba que o caminho que leva ao alvo é duvidoso. Creio que este seja o meu alvo.
      Não posso negar os meus bloqueios, que são insistentes. Mas a necessidade é algo que vai além do limites que são impostos pelo cérebro. Não há nada melhor do que derramar-me aqui...
      De uns tempos para cá, a minha lucidez anda de mãos dadas com a loucura. Pobres escritores, sabem tanto sobre o mundo e mal entendem o próprio eu. Para quem não sabe: eu nasci em uma família de escritores.

20 de out. de 2012

Tony e Damon

      Macabro, macabro. Lugares imundos fazem com que eu lembre deles. Ruas escuras, vento frio, vento, vento. Pesadelos! Tony, é tudo culpa dele! Ele me arrastou para dentro desse lugar escuro, depois me arrancou de lá, mas, conseguiu me traumatizar. Damon, ele é o demônio da minha vida, um vulcão aparentemente adormecido. Estes são os dois amores da minha vida. O primeiro, eu amei; o segundo, diz que me amou.
       Ambos foram doces. Ambos são amargos. Tardiamente eu os conheci, dois seres de almas imundas. Pessoas repugnantes, provocam náuseas em qualquer um. Eles me enlouqueceram, me deixaram chutando paredes, me atormentam até hoje.
       O que nos une é algo muito forte, de outras vidas. Nos odiamos no passado e nos odiaremos por toda a eternidade. Eles me empurraram para o desconhecido.

17 de out. de 2012

Papisa Joana

      Nascida no dia 28 de janeiro de 814, filha de um padre e uma saxã, Joana veio ao mundo para enfrentá-lo e mudá-lo a qualquer custo. Disposta a enfrentar todos os obstáculos, até mesmo o seu sexo. Joana deveria ter sido como qualquer outra mulher de sua época: destinada a casar, ter filhos e a ser um objeto do marido. Mas não, ela era diferente. Ela teve uma infância difícil, por causa do amor que tinha pelo conhecimento. Foi excluída pelas pessoas da aldeia, espancada diversas vezes pelo próprio pai e espancada por si mesma.
      "O que havia de errado com ela, que não desistia de seus sonhos impossíveis? Todo mundo lhe dizia que seu desejo de aprender era desnaturado. No entanto, ela tinha sede de conhecimento, ansiava por explorar o mundo mais vasto das ideias e das oportunidades aberto para as pessoas cultas." (pág: 48)
      Após fugir de casa e entrar em uma escola (até então, Joana ainda admitia sua identidade de mulher), mais uma vez ela foi excluída, pelos garotos da escola e odiada por Odo, seu professor. Depois de apresentar-se ao bispo e ter seu conhecimento examinado por Odo, Joana foi levada por Gerold para morar na casa dele enquanto ela estudasse. Aliás, Gerold é o cara, o homem mais encantador do mundo literário e da vida de Joana, claro. E como era de se esperar, Joana apaixonou-se por ele. E por causa desse sentimento Joana tornou-se alvo da manipuladora Richild, esposa de Gerold.
      Depois de muitas reviravoltas, Joana assumiu o lugar de seu irmão morto, tornando-se monge em Fulda. E depois de outras reviravoltas (estou citando 'reviravoltas' demais, eu sei. Mas é isso, ou eu contarei todo o livro, haha.), Joana partiu para Roma, chegando assim ao cargo mais alto, o de Papa. A Papisa Joana.

***
     
      Sem dúvida alguma, este livro é o melhor que eu já li. Joana é muito mais que um exemplo e é quase desconhecida (até meu professor de História pouco sabe sobre ela), é um livro que todos deveriam ler. Joana me mostrou o quanto é possível realizar o impossível, mesmo que para isso tenha que se negar a própria identidade. Joana amou Gerold, a sua única fraqueza quase que indomável. A existência de Joana foi aceita pela Igreja Católica durante a Idade Média. Mas a partir do século XVII, com o ataque do protestantismo, o Vaticano procurou apagar todos os sinais da existência dela, o que pelo visto, não fizeram muito bem. E nem poderiam fazê-lo, Joana não mereceria ser apagada da História. Donna Woolfolk merece todo o meu reconhecimento pela maravilhosa obra que escreveu.
Resquiesce in pace, Johanna Papissa.

14 de out. de 2012

Alguém

      Ninguém sabe dos meus sofrimentos, sou uma "criança trocada". Minha alma é dividida em dois pedaços, talvez três; cada um com seus sentimentos. Eu não sinto com o coração, muito menos com o cérebro. Eu sinto com a minha alma repartida, minha alma barrenta. Alma que ninguém conhece. Digamos que o meu corpo seja uma mera coincidência. Um corpo ferido, com ossos quebrados. Qualquer um me julgaria igual.
      Seria bom ter alguém que me conhecesse por completo. Alguém que me fizesse esquecer de todas as minhas teorias, de todas as minhas palavras. Alguém que me prendesse da forma mais livre possível. Alguém que entendesse meus olhares, a velocidade da minha respiração, os meus momentos de isolamento e as minhas lágrimas infantis. Alguém que soubesse que eu sou uma menina triste, que identificasse os meus sorrisos falsos e meus olhares cabisbaixos. Alguém que me desse um dicionário, não quinze reais de créditos e uma frase feita que não faz sentido algum. Alguém que me abraçasse como se fosse um melhor amigo. Alguém que me ligasse só pra dizer que são quase quatro da manhã e está faltando energia.
      Esse "alguém" existe? - É claro que não.

13 de out. de 2012

Outra noite de insônia

     Mais uma vez o vento frio vem me fazer companhia, acariciando o meu rosto, derrubando todos os meus papéis no chão, caminhando de leve pelo meu quarto, deixando-o cheio de invisibilidade. É uma noite fria, mas eu me contento com uma regata antiga e uma calça qualquer. Me encolho só por costume, só pra sentir que eu ainda estou comigo. Não há um ruído por aqui, a rua está perfeitamente deserta, os postes estão todos apagados. As estrelas estão magníficas hoje, a luz da lua entra no meu quarto e briga com vento. Tenho que admitir que a solidão me amedrontou e era isso que eu queria. Mas o medo já passou e deu lugar ao prazer imenso de ficar sozinha.
     Estou com insônia e estou maravilhada. Nada melhor do que uma insônia quando se quer pensar no presente, lembrar do passado e planejar o futuro. Eu até gosto do meu presente, já que eu consegui alugar um apartamento de três cômodos que formam um só, conquistei o silêncio que eu idealizei e já estou estagiando. O meu passado se resume na batalha para conquistar o meu presente. E o futuro não precisa de explicações. De uma certa forma, é até bom que nada se saiba do futuro. Pois a independência que eu julgava impossível já está nas minhas mãos.
      Mas uma parte do meu passado foi terrível, como eu odeio lembrar dos meus catorze anos e instantaneamente lembrar dele, da minha casa barulhenta, do carro dele na rua e da voz ecoante que ele tinha. A voz dele foi uma canção de ninar que nunca foi cantada ao meu ouvido. Ele significou tanto sem saber o que significava. Ele se foi durante o mês de agosto. Na época eu estava muito deprimida, com pesadelos constantes e pressentimentos ruins. Eu sempre sentia quando algo de ruim estava acontecendo com ele, mas eu não consegui evitar. Ele se foi e eu quase morri. Eu fiquei viva, não sei se foi por sorte, ou se foi por azar.
     Eu sei que a ideia de ficar sozinha até a morte é muito deprimente, mas eu sempre fui solitária e depois de algum tempo acabei me acostumando com a falta daquela presença. Tentei tirá-lo da minha mente, mas não existia um cara capaz de ocupar o lugar dele. Foram muitos beijos que me davam náuseas, muitas vozes que me deixavam com dor de ouvido. Foram muitos garotos sem significados, sentimentos. Nenhum deles conseguiram ocupar espaço algum. Um monte de inúteis.
     Até que chegou o dia em que eu desisti de procurar alguém que chegasse aos pés dele. Simplesmente aceitei os fatos. E parei aqui, nesse apartamento silencioso, bebendo refrigerante e observando a luz da lua brigar com vento.

8 de out. de 2012

Após o casamento

      Livros com finais felizes, não consigo gostar deles. E não são só livros, filmes também. São filmes que eu assitia aos 9 anos, mas lembro dos seus finais melosos. Eu sei que estou ficando (mais) louca, mas não há nada que se possa fazer. Até tem como tratar, mas ser atendida por um psiquiatra pior do que eu, é algo que eu não gosto.
      Voltando ao assunto dos finais felizes. Acreditar neles é coisa de quem não tem o que fazer (se alguém ficar ofendido, me desculpe). Mas, eu serei sincera: eu detesto a ideia de ter uma vida perfeita. Gosto de ser negativa, de ter do que reclamar, de sentir a minha cabeça latejar de raiva. E, como consequência disso, eu consigo melhorar em alguns aspectos. Mesmo que eu não consiga ser uma pessoa zen, nunca.
      Não há graça nenhuma em ser um modelo, um exemplo de perfeição. A mulher perfeita, que faz todas as vontades do namorado/marido/amante. Não há sentido algum em ser submissa. Acho que não repararam no real significado da frase "felizes para sempre". Quer dizer que após o casamento a vida é perfeita? Depois do casamento a vida se complica ainda mais, meu bem. Mesmo que exista amor entre os dois. Eu tiro o exemplo por mim, que sozinha já sou uma confusão, imagine se existisse um cara comigo.
      Depois do casamento você verá que o cara é viciado em futebol e que só sabe falar disso. Ele dirá que cólicas são besteiras na primeira vez que você se queixar de uma. Reclamará das suas roupas, mesmo que você esteja vestida como um monge. Suas maquiagens serão exageros, você sempre vai ter perfumes demais, esmaltes demais, cremes demais. Suas coisas serão caras demais, ele reclamará disso sempre, mesmo que seja o seu dinheiro. Você sempre sairá demais, mesmo que o destino seja a casa da sua mãe. Aliás, coitada da sua mãe, para aguentar suas queixas. E por fim, você sempre terá calçados demais, mesmo que só tenha dois.
      Prefiro andar descalça. Não sou do tipo que quer que o sapato de cristal seja do mesmo tamanho do pé. Ou o pé da Cinderela era pequeno ou grande demais. Não existe apenas um pé com o mesmo tamanho.

Meme das 11 coisas...

      ...deveriam ser 12 coisas, mas é melhor deixar pra lá.
      Já que a minha inspiração não está lá essas coisas, um meme sempre me salva. Então, roubei esse meme da Mia. E vocês, pobres almas, lerão onze porcarias (ou não) da minha vida.

As regras:
      - Escrever onze coisas aleatórias sobre você.
      - Responder as onze perguntas que a pessoa lhe mandou. E criar onze novas perguntas para as pessoas que irá mandar.
      - Escolher onze pessoas para repassar esse meme, e colocar os links dos seus respectivos blogs.
      - Avisar os blogs escolhidos.
      - Postar as regras.

Onze aleatoriedades:
      1- Sou obcecada por silêncio. Quer me fazer feliz? Então, me leve para um lugar silencioso e repleto de livros.
      2- Nunca namorei, nunca fiquei e nunca beijei ninguém. Eu escondia isso, até hoje.
      3- Minha internet é a pior do mundo, então, não reclame da sua.
      4- Minha memória é uma droga, esqueço de praticamente tudo.
      5- Eu preciso usar óculos, mas não vou ao oftalmologista. Por quê? Eu peguei conjuntivite na última vez que fui.
      6- Sou tímida, não exageradamente. Mas eu me acostumo rápido com a presença de alguém desconhecido.
      7- Já "roubei" um livro de uma biblioteca, mas eu o devolvi. Eu precisava ler o livro, mas já havia pegado outro livro lá. O desejo foi incontrolável, então...
      8- Sonharei eternamente com o meu Gerold, seja lá quem for. Mas se você existir, que apareça logo!
      9- Só amei  um único homem na vida, ainda o amo. Ele é meu amor platônico desde os meus 12 anos. Mas ele não é o Gerold. Infelizmente.
      10- Sou apaixonada pela França, pela língua francesa, Balzac, Paris. E pela Torre Eiffel, que foi inaugurada no dia do meu aniversário, 31 de março (só que em anos diferentes, dãh).
      11- Nasci aos seis meses, com 40 centímetros e 1 quilo. Eu deveria ter morrido, mas estou aqui, escrevendo.

Onze perguntas:
      1- Qual a celebridade que te inspira? Nunca tive muita ligação com celebridades. Então, nenhuma.
      2- Tem algum livro que você leu e já modificou o seu ponto de vista sobre algo? Qual foi esse livro e que visão ele mudou? Papisa Joana não sai de mim, sério. Mudou minha visão sobre limitações, conhecimento e até amor. Se você ler esse livro com vontade, pode apostar que a pessoa que abriu o livro não será a mesma que o fechará. Psicologicamente falando, claro.
      3- Qual música você não consegue parar de ouvir? Mais uma vez - Legião Urbana.
      4- O que você mais gosta no seu blog? Bom, o Thousand Loves em si, já é parte de mim. Mas eu tenho que gostar dos meus textos, né? Então...
      5- Se pudesse mudar de nome, qual escolheria? Mirian.
      6- Tem algum dom que você gostaria de ter? Atrair chuva e escrever já me satisfaz.
      7- Que palavra define a sua infância? Uma frase: Tenho lembranças doces da infância, claro. Quedas, risadas, cordas e pipas fizeram parte da minha infância. Mas eu amadureci cedo.
      8- O que você acha das redes sociais? São minhas caixas de fotos e reclamações.
      9- Você é patriota? É obvio que não, sou apaixonada pela França.
      10- Se pudesse ser igual (fisicamente) a alguém, quem seria? Ninguém. Sou muito feliz do jeito que sou, tenho vontade de mudar algumas coisas, mas nada que me leve ao delírio de querer parecer com alguém.
      11- Esse ano foi bom, razoável, ou ruim pra você? Por quê? Vamos falar sério, não existem anos completamente bons. Existem momentos bons, razoáveis e ruins. Mas anos são sempre uma mistura do ótimo com o péssimo.

Pronto, acabou! Como eu acho que todo mundo que conheço já fez esse meme, ele está totalmente livre para ser roubado, furtado, surrupiado ou coisas do gênero. Se alguém fizer, me mande o link. :)

5 de out. de 2012

Subconsciente

      A ânsia do vômito, do choro. Somente a vontade insistente, martelando. Ali dentro, sem saber exatamente onde, mas dói, perfura, comprime. A dor está presente em todos os lugares e em lugar nenhum, tudo isso ao mesmo tempo, fazendo o corpo entrar em pânico.
      Somente vontades, simples e complexas, mas nada consegue ir para fora. Uma alma atormentada não consegue comandar um corpo. O vômito, as lágrimas e os gritos. Todos estão amontoados em um núcleo qualquer.
      O corpo afunda e reconhece a água gelada, o aconchego de tocar a água e o nada ao mesmo tempo. O fôlego diminui e o desejo grita, implora e diz que quer ficar. O cérebro não raciocina como deveria, o cérebro parou. Zumbidos fazem os ouvidos doerem, os pulmões estão quase estourando. Um quase desmaio acontece e o subconsciente sonha. Sonha com ruas vazias, sujas, pobres e estranhas. A vontade de correr só se manifesta depois que as pernas já estão travadas, tudo isso por culpa da perseguição do invisível. Existe um hospital em alguma rua, existe o desespero. Os olhos já estão fechados, o sangue escorre pelo nariz, o corpo afunda. O desespero é escuro e invisível, escuro e invisível.
      Um tremor faz com que o corpo desperte, mas o cérebro não consegue fazer cálculos e nem consegue pensar. O extinto fala mais alto, grita. Grita em uníssono com a fraqueza. Nadando sem forças, o sangue transformou a água em um monte de lama vermelha e o nojo só aumenta. Só mais uns metros e a superfície estará presente, o oxigênio está logo ali. A lua está refletida na água. A lua e o oxigênio, lua, oxigênio...
      A vida! A vitória, aqui está a superfície. E só voltar para o antigo mundo. Estou olhando e não enxergo nada, o oceano está escuro. O frio, tremor. A consciência está...
      O susto ofegante, era só um pesadelo. Mas foi real, o oceano conseguiu morar por alguns minutos aqui e ele dormiu nessa simples cama de solteiro. A angústia e o medo, tudo foi real.
      O subconsciente grita tudo, grita para aceitarmos a realidade, os desejos reprimidos, castigos, ameaças, amores, paixões... Aceitar o que se é. Pensando bem, o subconsciente é a real consciência.

3 de out. de 2012

Astronomia

      Hoje a lua surgiu mais cedo, com o formato de um biscoito mordido. As estrelas estão cada dia mais brilhantes, mais próximas e o céu durante a madrugada é simplesmente espetacular. Astronomia sempre me encantou, mas o fato de possuir matemática me deixa com um pé atrás (ou melhor, os dois pés). Prefiro ficar com os meus conceitos sobre estrelas (ou seja, o lado mais poético e estético), deixando de lado toda a baboseira de cálculos, elementos químicos e coisas do gênero.
      Estudar a posição, os movimentos e a constituição dos corpos celestes nunca passou de um sonho infantil.

1 de out. de 2012

Outubro

      Dois goles de café quente e a xícara já está se esvaziando. O ar ainda tem cheiro de fumaça. Voltei a ler meus livros com uma certa compulsão. Quero viver assim, entre livros e ideias malucas de um próximo texto. Assim começa outubro.
      Agosto é um mês depressivo e setembro é o mês da pós-depressão. Mas não existe nenhum mês que seja de completa felicidade. Ou seja, nós somos um bando de pessoas querendo colocar culpa em quem não tem. Você está entre elas, eu também. Todos nós mentimos, escondemos algo, somos egoístas. Todos nós erramos e não admitimos o erro alheio. Julgamos os outros e nem olhamos para nós mesmos. Não estou destacando um grupo de pessoas. Estou destacando toda a humanidade.
      Todas as pessoas são repugnantes, todo mundo tem um erro feio pra contar. Então, quem somos nós para julgar um infeliz por qualquer tropeço? Todo erro tem o seu motivo, os erros já foram acertos na época  em que foram cometidos. Mesmo que o tal erro seja uma tremenda irresponsabilidade e cause arrependimentos depois. O melhor é deixar cada um ser feliz à sua maneira.
      Um gole de café frio e finalmente a xícara está vazia. O cheiro de fumaça passou, mas eu ainda estou espirrando. Fechei o livro, estou com sono. Nesse momento eu não posso mover sequer uma palha pela humanidade e nem por mim. Assim termina o primeiro dia do mês de outubro.