11 de nov. de 2012

O guardião de anjos

Ele foi um guardião de anjos em tempos passados, hoje não passa de um simples mortal. Era aquele que orientava os anjos, aconselhando-os e afagando os humanos, mesmo sendo invisível. Ele notava todas as lágrimas, antes mesmo que elas brotassem. Porém, o cargo perfeito não foi eterno. O seu maior desejo foi atendido, o desejo ser um humano como todos os que ele observava sofrer.

Mas em sua vida terrena, perdeu-se em seus conceitos e crenças. Nada havia restado daquele seu instinto de guardião. Ele tropeçou nos próprios pés e destruiu todos os seus sonhos terrenos. Deixou-se guiar por aquele que ele mais detestava e acreditou que tudo estava acabado.

Ele ansiava um recomeço, procurava sempre um luz acesa no fim do túnel. Uma luz que não existia, ou nunca estava acesa. Estava desesperado desde que se entendia por gente. Sempre estava com um maldito nó na garganta, sempre estava prestes a desabar. Era como uma construção imperfeita, onde os tijolos foram colocados de qualquer jeito, onde o cimento era como lama. A cada vez que a lua surgia, a cada vez que a primeira estrela brilhava no céu, ele se perguntava como poderia ser tão sujo e imperfeito.

Mal sabia ele que havia sido um guardião de anjos.

Ele encontrou no próprio reflexo toda a imperfeição do mundo. Encontrou em si mesmo todo o sofrimento. Porém, ele enxergava aquilo que não era, aquilo que nunca foi. A cada nova estrela que surgia um pedido era feito. Ele pedia para encontrar-se antes de enlouquecer. E depois de uma noite cheia de lágrimas, ele conseguiu sonhar. Sonhou com anjos, milhares de anjos, e um deles tinha o seu rosto. Depois do sonho, ele decidiu procurar sua verdadeira identidade.

Ele havia aparecido em um orfanato, foi deixado no jardim. Não existia nenhum vestígio de seus pais. Nunca possuiu nenhum documento onde constasse o nome de seus pais. Era um enigma. Então, ele decidiu colocar sua foto em um jornal. Só que para isso ele teve que olhar-se em um espelho para descrever suas características. Foi a primeira vez que ele encarou o espelho. E era lindíssimo, magro, rosto largo e perfeitamente desenhado. Seu cabelo era um tom quase preto de castanho e tinha uns olhos dourados. Sim, dourados e demasiadamente brilhantes. Até que ele decidiu procurar por um sinal, uma cicatriz, algo que facilitasse sua descrição. E não havia nada que marcasse sua pele branca. Até que ele lembrou de suas costas. E se surpreendeu ao ver duas imensas cicatrizes diagonais que começavam um pouco abaixo de sua nuca. Eram lindamente sobrenaturais. Depois disso, ele fez um pequeno corte no pulso para ver o próprio sangue. E com isso, uma nova surpresa aconteceu: o sangue que jorrava de suas veias era tão dourado quanto seus olhos, e exalava um perfume inexplicável.

Essa foi a única vez que ele sentiu-se perfeito. O corte não estancou, pelo contrário, abriu-se cada vez mais rasgando sua pele. Só aí ele entendeu que não se encaixava nesse mundo pelo fato de ter sido um anjo guardião. O pulso cortado tirou-lhe a vida, mas não trouxe a morte. Ele apenas sentou-se no chão e esperou que o sangue parasse de jorrar. Mas, o sangue não parou de jorrar e sua visão clareava cada vez mais. Era a tal luz no fim do túnel. Seu corpo foi apagando, até que desapareceu por completo. Ele não morreu, só retornou ao paraíso. Até depois, Olhos Dourados.

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