9 de mar. de 2013

Preciso ir, mas eu volto

O problema é o seguinte: algumas dezenas de anões passaram falando latim ao meu lado. Anões. Sim, eu estou drogada. Meu namorado está aqui comigo, mais drogado que eu. Nós dois passamos a tarde inteira falando das nossas infâncias. Ele era um filhinho de papai. E só me faltou pedir esmolas. Hoje somos iguais, drogados, apaixonados e perseguidos por todos. Ou perseguidos por ninguém. Ou só por nós mesmos. Seremos mortos pelo nosso amor, por causa da nossa liberdade em plena sociedade conservadora.

E eu estou grávida, pela milésima vez. E pela milésima vez vou abortar uma criança que quase não existe. E eu vou continuar com as mentiras, e quase ninguém se importará. Me resta o delírio, o teto girando, um rapaz ao meu lado que diz me amar. Um rapaz ao meu lado que eu sei que me ama. Sabe, minha infância foi dura, mas não importa mais. Me mandaram pra um psicólogo, mas ele veio me falar dos problemas dele. E eu... Não sei, mas as coisas vão mudar algum dia. Eu só tenho que sair daqui, só não deixo esse rapaz sozinho. Minhas amigas mandaram eu sair de perto dele, só que não vou. Agora eu estou rindo sem nenhum controle da cara delas. Idiotas. O que sabem de mim? Nada. Mas sabem tudo. E eu que não sei de nada. E essa droga de maconha não faz nenhum efeito.

Acorda, cara! Eu preciso ir, não me peça pra ficar. Você sabe que eu volto, eu sempre volto. Tem outro cara me esperando, está sentado na mesa de um restaurante aí. E eu vou inventar uma desculpa qualquer. Me larga! Não, meu amor. Eu não te abandono, não chora. Te amo. Olha, como você quer que eu arrume esse dinheiro se eu não disser que vou casar com aquele idiota? É só mais um tempo. Tenho que abortar nosso filho. Não me peça pra deixá-lo nascer. Vou casar com outro. Sim, sim, sim, eu te amo. Mas também preciso de dinheiro, esqueceu? Nós precisamos. Sim, depois eu me separo, fico com o dinheiro dele. Eu te amo.

Já vou. E eu volto. Enquanto isso você pode vender algumas drogas, conseguir outras mais fortes pra nós. Eu estou um pouco tonta, mas o idiota não vai perceber. Sei lá, eu pego uma carona, invento que alguém morreu. Agora veste essa roupa e não me olha com essa cara. Eu realmente preciso ir se quiser ter algum dinheiro. Adoro esse teu cheiro de vinho misturado com fumaça, mas aquele idiota me espera. Tchau.

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