24 de set. de 2012

Três estrelas

      Como eu pude ser tão fria? Me desapeguei com tanta facilidade e meu estômago dói. Dói por culpa das confusões do meu cérebro, meu estômago dói quando eu fico nervosa. Meu coração dói quando eu estou tranquila demais. Meu subconsciente me diz que eu tenho que me acostumar com a presença do ser mais estranho e repugnante do mundo. Eu devo me acostumar com a pior pessoa do meu mundo?
      Estou cercada de pesadelos por todas as noites. Eu durmo sem rezar e rezo para conseguir dormir. O cansaço é automático, o medo é automático, a dor no estômago é eterna. Eu sou uma máquina, deixei de ser humana.
      Eu fiquei doente, cortei meus lábios com os dentes e quase perdi todo o meu sangue. Tremi e chorei até o sangue parar de jorrar. Até que se formasse essa cicatriz. A cicatriz que você deixou e que eu ainda não decifrei. Você é um enigma e eu também. Você tem tatuado no braço um dragão, que é o mesmo que eu tatuei nas minhas costas antes de te conhecer. Ou seja, a nossa ligação é um pouco mais complexa. Eu sei que seu cérebro é retardado demais para entender. Mas eu te explico tudo com palavras infantis, eu sei que você entenderá.
      Você lembra da primeira vez que nossos olhos se encontraram? Os nossos corações estavam inflamados naquele dia, e os cérebros totalmente vazios. Você disse que precisaria de mim e me pediu para nunca te deixar. Eu prometi e te dei minha mão. Esse foi o momento em que fogo e água se encontraram e algo explodiu em outro mundo. Os nossos planetas explodiram, viraram poeira. Depois a força da gravidade uniu no universo o que o amor conseguiu unir na Terra. Nossas almas eram e ainda são ligadas, eu prometi nunca te abandonar e nunca te pedi nada em troca.
      Depois você desconsiderou nossa promessa e os nossos planetas se agitaram. As três estrelas que foram entregues a nós dois estavam sendo atingidas por meteoros. Lembra que nós olhávamos aquelas estrelas? Uma estrela era sua, a outra era minha e a terceira estrela pertenceria ao nosso herdeiro. Mas você desconsiderou tudo isso. E resolveu seguir a sua vida como um homem normal. E me deixou destinada para ser uma humana, mas eu nunca fui uma humana normal. Foi isso que aconteceu na nossa primeira vida.
      Alguns meses se passaram e você foi enviado para nascer mais uma vez na Terra, com um castigo escrito. Você me deixou e quebrou a nossa promessa, então foi castigado. Você se tornou um bêbado e não conseguiu realizar um dos seus maiores sonhos. Sinceramente, você não merecia isso. E eu nasci dezenove anos após o seu nascimento e também fui castigada. Meu castigo foi me apaixonar novamente por você e não conquistar o seu amor. Mas o pior castigo de todos foi ver o meu filho nascer de outra mulher, sem saber a verdadeira história dele e sem saber que possuía uma estrela.
      Você sabe de poucas coisas da nossa história, só sabe das coisas que você sonha frequentemente. Eu sei de toda a nossa trajetória, sei de todos os detalhes das nossas vidas. Por isso que eu te olho com um olhar torto, por causa das coisas que você me fez. Não guardo nenhuma mágoa, afinal, o amor é maior que o ódio. Mas eu quero que você lembre de duas coisas: do momento em que os nossos olhos se encontraram  e os planetas explodiram. E do momento em que você quebrou a nossa promessa, me abandonando para ser um homem normal. E o seu deslize acabou com o nosso planeta, mas as três estrelas ainda estão lá, brilhando.

4 comentários:

  1. Puxa, que legal. No começo parece um post pessoal, mas depois vai tomando ares de narrativa. É incrível o efeito causado pela liberdade que o leitor, nesse caso, tem para preencher as lacunas. E temos tudo aqui, personagens, trama, problematização. Parabéns, adorei.

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    1. E o mais estranho é que eu escrevi esse texto "no modo automático".
      Obrigada!

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  2. Desculpe a ignorância, mas o que quer dizer "modo automático?" Rsrsrs

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    1. O "modo automático" é quando eu escrevo tudo o que me vem na mente. Digamos que é um texto livre, haha. :)

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