28 de mai. de 2013

O falso descobrimento da alma do Brasil


E aquele fevereiro vai morrer. Fevereiro é mês de inferno astral e você cismou de aparecer logo nessa época do ano. Esse incômodo que quase se parece com dor, como ele aperta aqui dentro. Sabe, o chato é lembrar de toda a minha sinceridade naquele fim de tarde, lembrar daquela estrela solitária. Foi a primeira estrela que surgiu no céu, mas eu não fiz pedido nenhum, eu não queria que aquele fim de tarde se multiplicasse por anos e anos. Eu só queria pelo menos uma vez acreditar nas promessas de alguém.

Os olhos que me olham são outros. E eu olho de volta, sorrio, acredito nas promessas desse outro. Acredito, pois não existem promessas. Escrevo no diário, depois o atiro contra a parede. E caem as fotos, a primeira página se rasga. Na frente, uma promessa de que te esqueceria; no verso, uma chama de amor acesa por um simples encontro de acasos. Detesto diários, mas sempre tive um. Você foi como um diário na minha vida. Por mais que eu te jogasse no lixo, eu te consertava, renovava, fazia o que fosse preciso para outra vez acreditar nas suas palavras. Eu sabia que tudo era mentira, eu costumo ter umas intuições que são quase previsões do futuro. A maldita intuição me dizia que você era roubada. É uma pena que eu tenha deixado você roubar um pouco da minha já pouca sanidade. Mas esquece, acidentes do passado não passam de idiotices para mim.

Esse foi o seu jeito de me fazer de diário. De me jogar na parede e destruir minhas folhas, embaralhar minhas palavras. Eu nunca fui a mesma depois de cada conversa. E você não foi forte o bastante para aguentar um vírus em mutação, não é? Eu sou um furacão, eu te disse isso e repeti. Repeti, repeti. Deixei bem claro que eu não era só mais uma pessoa vazia. Te falei e escrevi, você sabe que eu ando na rua de um jeito diferente. Eu te disse, eu encaro as pessoas e tento decifrar a alma de cada uma delas. Eu conheço os olhares, os gestos e os sorrisos pela metade. Eu te disse que sabia de tudo, a razão desse saber era só uma: Eu sou cada uma dessas pessoas. Eu te disse que, na verdade, eu era você mesmo.

Você me julgou erroneamente. Fez da minha sensibilidade, bruxaria. Fez da tua incapacidade, Inquisição. Fez das minhas paixões, crimes. Fez da minha magreza, fragilidade. Você sempre será alguém que não descobre novas terras pelo simples medo de ter vertigem no navio.

3 comentários:

  1. Mais um grande texto! Incisivo e visceral!
    Padrão Gleanne de qualidade!
    GK

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  2. Obrigada! :D
    Esse texto foi um desabafo mais que necessário.

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  3. Seu post me fez lembrar algo que me aconteceu. Há meses coloquei na cabeça que esqueceria certa pessoa e assim o fiz. Bem, eu achava que sim, porque o exclui do Facebook, parei de olhar pra ele no ônibus, afastei os pensamentos quando insistiam em me fazer imaginar-nos juntos em um futuro estúpido, lembrando-me da voz dele, imaginando o cheiro, porque nunca cheguei perto o bastante para saber. Mas... sempre o mas... quando penso que consegui, por estar afastado, por não mais ir com tanta frequência à universidade, depois de o ver rapidamente e andar com ele, em silêncio por uma quadra,começa tudo de novo, os pensamentos e agora um sonho. No sonho ele era tão gentil e me notava.

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