13 de out. de 2012

Outra noite de insônia

     Mais uma vez o vento frio vem me fazer companhia, acariciando o meu rosto, derrubando todos os meus papéis no chão, caminhando de leve pelo meu quarto, deixando-o cheio de invisibilidade. É uma noite fria, mas eu me contento com uma regata antiga e uma calça qualquer. Me encolho só por costume, só pra sentir que eu ainda estou comigo. Não há um ruído por aqui, a rua está perfeitamente deserta, os postes estão todos apagados. As estrelas estão magníficas hoje, a luz da lua entra no meu quarto e briga com vento. Tenho que admitir que a solidão me amedrontou e era isso que eu queria. Mas o medo já passou e deu lugar ao prazer imenso de ficar sozinha.
     Estou com insônia e estou maravilhada. Nada melhor do que uma insônia quando se quer pensar no presente, lembrar do passado e planejar o futuro. Eu até gosto do meu presente, já que eu consegui alugar um apartamento de três cômodos que formam um só, conquistei o silêncio que eu idealizei e já estou estagiando. O meu passado se resume na batalha para conquistar o meu presente. E o futuro não precisa de explicações. De uma certa forma, é até bom que nada se saiba do futuro. Pois a independência que eu julgava impossível já está nas minhas mãos.
      Mas uma parte do meu passado foi terrível, como eu odeio lembrar dos meus catorze anos e instantaneamente lembrar dele, da minha casa barulhenta, do carro dele na rua e da voz ecoante que ele tinha. A voz dele foi uma canção de ninar que nunca foi cantada ao meu ouvido. Ele significou tanto sem saber o que significava. Ele se foi durante o mês de agosto. Na época eu estava muito deprimida, com pesadelos constantes e pressentimentos ruins. Eu sempre sentia quando algo de ruim estava acontecendo com ele, mas eu não consegui evitar. Ele se foi e eu quase morri. Eu fiquei viva, não sei se foi por sorte, ou se foi por azar.
     Eu sei que a ideia de ficar sozinha até a morte é muito deprimente, mas eu sempre fui solitária e depois de algum tempo acabei me acostumando com a falta daquela presença. Tentei tirá-lo da minha mente, mas não existia um cara capaz de ocupar o lugar dele. Foram muitos beijos que me davam náuseas, muitas vozes que me deixavam com dor de ouvido. Foram muitos garotos sem significados, sentimentos. Nenhum deles conseguiram ocupar espaço algum. Um monte de inúteis.
     Até que chegou o dia em que eu desisti de procurar alguém que chegasse aos pés dele. Simplesmente aceitei os fatos. E parei aqui, nesse apartamento silencioso, bebendo refrigerante e observando a luz da lua brigar com vento.

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