28 de abr. de 2013

A curva

Uma curva longe, cercada de árvores. Lembra minha infância, de como fui feliz no meio daquela simplicidade. E a simplicidade que me fez detestar essa agitação toda, esse ar pesado e a falta de silêncio. Lembra a curva do seu queixo, mas não quero misturar você com os meus assuntos. Só posso misturar meu passado com esse frio que faz agora. E com a lua distante dos meus olhos, também posso misturar com o livro usado da Lygia Fagundes Telles que comprei hoje pela manhã. Posso adiantar que sou complicada e disfarço essa minha magreza com fragilidade. Mas já fui mais frágil.

As tardes de domingo. Ah, essas tardes... Ainda bem que domingo não é como ano bissexto, há domingos em todas as semanas e eu sei que isso é informação idiota. Mas aos domingos eu penso mais que o normal, fico mais sentimental, coloco cola e durex nas minhas asas quebradas e vou choramingar na janela do duplex. Choro sem motivos e com todos os motivos. E como a lágrima que dos meus olhos foi morrer na calçada, eu morreria na mesma calçada se desejasse. É bem complicado querer falar do passado e do presente, será pior ainda se quiser colocar o futuro no meio de tudo isso.

Estou rimando sem perceber. Coisa mais estranha. Tudo isso por ter visto uma curva que fica longe longe. A curva lá no Rio de Janeiro e eu aqui, em Fortaleza. Estranho também é ter visto uma foto sua de anos atrás. Mas, pela segunda vez, não quero misturar você com meus assuntos. Mesmo que eu sempre acabe te misturando. E se fosse pra imaginar um conto de fadas das nossa vidas, eu voltaria para os sete anos. Para a minha simplicidade, o jeito de observar os detalhes e vez ou outra me misturar com os meninos para jogar bola. Eu levava tapa na cara, mas perdoava os meninos e continuava amiga deles. O que houve comigo que não sou mais assim? E você voltaria a ser o menino que quase se matava de tanto arriscar a vida subindo nas árvores. E pra completar o tal conto, pularíamos para os meus dezoito anos. Eu seria a Ana Clara, você, Maximiliano. Estranho imaginar um conto de fadas com uma moça que morre e um rapaz que acaba preso. Mas é ao meu modo, é só deixar ser.

Estranho também é misturar tudo, perder o nexo, mas fazer sentido. Estranho é fazer força e te arrancar do coração como se arranca um dente amarrado ao trinco da porta. A estranheza continua quando projeto meu futuro e digo: "Nunca isso, nunca aquilo..." Sou cheia de nuncas desde pequena, mas sempre estou me surpreendendo por conseguir transformar uma adivinhação em algo positivo.

Quase esqueci da curva que fica longe, lá na rua de calçamento. Com árvores diferentes das que existem aqui. E a única diferença entre as árvores é a distância. Pois eu estou aqui e lá ao mesmo tempo. A curva nem é tão longe. Por isso a curva do  teu queixo está tão perto dos meus olhos.

2 comentários:

  1. Olá, Gleanne!
    Quero que saiba que o que eu disse no teu post anterior não foi em absoluto para te agradar ou bajular, tá? Eu disse exatamente o que eu penso sobre os teus fantásticos textos! Quanto ao que você mencionou em resposta sobre ter pensado em deixar de lado a escrita, ao mesmo tempo em que isso soa totalmente absurdo, quero que saiba também que te entendo perfeitamente! É que nós, que gostamos de escrever, que, mais ainda, temos necessidade disso, costumamos ser insaciavelmente perfeccionistas, estamos sempre querendo nos superar e muitas vezes vem aquela sensação de que tudo o que criamos está um lixo! Será que é isso que você sente? Se for, é porque, como creio, vc tem mesmo sangue de escritora! De todo modo, fico muito feliz se meu comentário te serviu de incentivo!
    É claro que nem sei se vc quer ser uma ecritora, mas, se quiser e se dedicar a isso, repito que tenho certeza de que será das grandes!
    Eu destacaria três coisas no que vc escreve que chamam muito a atenção... Uma enorme capacidade de desenvolver temas simples, o forte sentimento com que consegue impregnar cada passagem e o quanto vc pontua bem, coisa que, por incrível que possa soar, é bastante raro por aí, não sei se já observou...!
    Então, vá em frente, pequena amiga! Se vc gosta disso, não pare! Um dia vou querer um livro teu autografado, ok?
    GK

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    1. Sim, é isso que sinto. Sou perfeccionista com os textos e com tudo (ou quase) na minha vida. Às vezes até eu me sinto um lixo, rs. E em relação ao sangue de escritora, também creio muito nisso, tenho parentes distantes que tinham uma queda para a escrita. Já veio no DNA. E desde criança falava que queria ser escritora, mas minha mãe dizia: "Menina, isso não dá dinheiro..." Impossível lembrar disso e não sorrir.
      Ah, e obrigada por ter destacado esses pontos que chamam atenção nos meus escritos. Você está sendo um incentivo e tanto!
      No dia em que eu escrever um livro, você receberá o autógrafo. Porque os que eu escrevi com 20 páginas e (infelizmente) joguei fora não contam como livros, rs.
      Beijos!

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