13 de fev. de 2013

Thay

Apenas um copo d'água, cheio e idiota. Apenas uma mesa de restaurante, com uma garota sentada. São apenas garçons soltando piadinhas idiotas para a universitária bonita, que está mais preocupada em ler um romance do que com o resto do mundo. "Eu ainda mudarei esse mundo." Esse é o objetivo da universitária de óculos que já foi confundida com louca. Quer dizer, ela já foi louca, já foi idiota, já foi sonhadora demais, já foi boba. Hoje é realista, confundida com pessimista. Pobre mundo que duvida dela.

Pobres pessoas que confundem a dor dela com revolta. Doeu crescer, deve doer em todo mundo, mas sempre disseram que ela é a única em sua dor. Única em sua idiotice, em sua bobagem por querer ser criança outra vez. Nostalgia boba, eu sei. Ela também sabe. Ela também odeia, e sente vontade de jogar a mesa pro alto, e sair pisando firme, e chorar pra rir depois. Ela tem que ser perfeita, tem que ter todo o corpo "no lugar", tem que tratar as estrias e celulites. Pobre mundo que pensa que ela fará isso. Coitada da sociedade, que implorará até morrer. Feminista? Talvez, ainda em formação. Talvez a cabeça dela seja imatura demais para assumir tanta pressão. Mas tanto faz, ela sabe o que quer pra si, o que quer mudar no mundo. Sabe que é forte o bastante para mudar, para apanhar dos policias que impeçam seus futuros protestos, para rir da cara dos rapazes machistas que apareçam pelo seu caminho, para fazer tudo como o seu coração manda.

Thay já existe, já respira entre nós. Deve estar agora grudada em um livro, no seu apartamento de dois cômodos, com seu gato preto aos seus pés. Sim, ele é preto de propósito, para que os outros digam que ela é esquisita, e que tem 80 anos mentais, e que ficará "pra titia", e blá-blá-blá-morra-se-não-gostar. Thay está fazendo anotações em um dos vários cadernos, com os óculos escorregando pelo nariz, sorrindo sem saber por qual motivo. Sorrindo para si mesma, e para o mundo que não sabe que ela está lá. Thay existe, e eu tenho fé que ela seja assim. Ela não me disse palavra alguma, nem me sorriu. Apenas olhou nos meus olhos enquanto eu tomava café naquele restaurante agitado. E o olhar dela me disse tudo, me disse que ela mudará o mundo. E eu acreditei.

2 comentários:

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