3 de fev. de 2013

Das coisas que eu não deveria escrever

Então o dia já está quase chegando, o sol ainda não surgiu, mas mostra um pouco dos seus raios. Ainda estou acordada, com um olho irritado e um frio indizível. O sono aparece, eu o mando embora. Ele e suas palavras malucas, seus desejos exagerados, sua naturalidade pra falar sobre qualquer coisa. Lembramos do ontem, do ontem que foi o melhor dia das nossas vidas. Das palavras erradas e outras que não foram ditas. Dos enganos iniciais e das surpresas do presente. Dos convites, e outros convites. E do silêncio.

Estou aqui, com as coisas espalhadas pelo quarto, com uma folha escrita. Nossa, a prova de Química! Estudei pouco, mas estudei ontem, estudarei um pouco mais amanhã. Esmaltes espalhados pela mesa, livros na cama. E um corpo no meio de toda essa bagunça, e uma alma vivendo dentro desse corpo. Boa parte das coisas ficam no chão, fruto do furacão que sou. Tudo o que me pertence sempre cai no chão, se joga, pula para o infinito. E eu permaneço olhando para o teto, sou metade peso, metade leveza. 

E me vejo no meu interior, na fábrica de sonhos que sou. Sou transparente como não queria ser. Sou transparente por causa das letras, por isso estava com medo de encarar uma folha de papel outra vez. E me vejo abaixada, com medo dos tiros. E me vejo menina, com medo de cair. E me vejo mulher, com medo de permanecer em pé. E me vejo chorando em frente ao espelho, depois que não me vejo mais.

Depois me vejo sorrindo, me vejo de coração acelerado, sem um mundo perturbador lá fora. E ouço o som do silêncio, do silêncio que não existia. Mas ele fez esse silêncio existir. Então, me vejo com medo de que não dure sempre. Me sinto idiota por pensar assim, lembro que dizem que sempre existirão outros. Depois lembro que isso não é verdade. Eu lembro de tudo.

Eu nunca sei se é verdade, nunca sei se é apenas uma brincadeira besta. Ainda bem que ele já interpretou algumas frases. Ainda bem que ele tirou algumas das minhas dúvidas.

O cansaço da alma, da alma que é um não sei o quê que só cansa de contemplar o corpo, que só cansa de ouvir o corpo. A alma é pura, mesmo que eu não queira. É só a alma que sofre, sofre o que eu não sofro. O vento é apenas uma brisa, uma brisa que entrou de leve e sussurrou no meu ouvido. Brisa que trouxe estrelas, trouxe sonhos, promessas e alguns medos. Pena que ainda sou uma menina que deita no chão frio para ler um livro. 

E tudo o que tenho está jogado, tudo está no chão. Minhas coisas atormentaram-se com a dúvida e a mentira. O que possuo não é tão forte quanto eu. Eu ainda consigo ser o peso entre tanta leveza.

Ainda consigo sentir o beijo que me prendeu na realidade, ainda sinto o cheiro que me tirou da realidade. Ainda sinto tudo, amor. Pena que sou desastrada e complicada demais, assim como ele. Pena que não sou o  oposto dele. Eu já senti tudo, já sonhei com tudo. Falta ouvir uma velha frase que só os apaixonados dizem, falta estar ao lado dele mais uma vez. Acho que ele me prenderá no mundo que nunca vivi. 

E o medo que me expulsa do abismo é do mesmo tamanho da coragem que me leva até ele.

3 comentários:

  1. Glean... Você escreve com tanta delicadeza e amor, dá pra sentir isso daqui! Para uma menina tão novinha como você, esse texto é uma riqueza sem igual. Adorei lê-lo!

    Beijos

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  2. Oi Glean muito legal seus texto, gostei bastante. Parabéns, sucesso com o blog. beijos

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