8 de set. de 2013

Resiliência

E acontecem essas coisas que não conseguimos explicar para as crianças. Nascemos, juntamente com os pingos de chuva, os raios de sol. O mundo dói, você não sabia? É mais uma das infinitas coisas que não nos ensinaram na infância. Crescemos como flores selvagens, mesmo que nos protejam excessivamente. Acho tão injusto o julgamento de um passado tão distante. Será que você também pensa assim? O poeta disse que é preciso virar a página e eu acreditei, concordei. Você me indagou sobre as marcas. E eu disse que elas são necessárias e só. Nunca me senti tão rasa. Agora quero que você aceite sua profundidade.

Eu que leio as entrelinhas, quis ser Deus. Dessa vez por uma causa nobre. Eu que de Deus já duvidei, eu que de Deus desacreditei. Quis ser o mais perfeito dos seres para te explicar o que eu, humana, não consigo dizer. O mundo é bom, menina. Mas a maldade quer que vejamos as coisas de outro ângulo. Dizem que eu tenho todas as palavras na palma da mão, mas isso é um inocente engano. Eu queria, sim, ter todas as palavras. Só com essas palavras que eu não conheço, eu poderia tirar um pouco da tua dor. Mas se, por um acaso, o mundo te machucar outra vez, eu prometo que meu silêncio estará sempre contigo. E as pessoas que possuem o meu silêncio cheio de palavras que não consigo dizer, bem, são elas que eu mais admiro. Admiro, mesmo que não consiga expressar.

E agora, moça?
O mundo quer acabar
Mas ele sempre recomeça.
E nós, vãs criaturas, não podemos recomeçar?
De cada cicatriz
Devemos nos orgulhar
E de nada nos valerá a escalada
Que não consiga nos marcar.

Para uma moça que nasceu há exatos dezenove anos. Mais uma vez, feliz aniversário.

3 comentários:

  1. Que lindo!!! Obrigada, Gleanne. Me deixou emocionada. O texto está perfeito, como sempre. Lindo! Lindo mesmo!!!!! Foi o gesto mais bonito que recebi hoje. Fez meu dia valer a pena. Obrigada!

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  2. As visíveis são, entre as cicatrizes que com o tempo vamos colecionando, uma ínfima minoria.
    GK

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