Viu que jamais existiria ângulo igual.
Era uma rua simples, pisada incessantemente por seus transeuntes. Deixavam marcas onde pisavam, traziam areia de outros lugares. Traziam nos pés as suas angústias; na força dos passos, suas dores.
Pessoas, apenas. Em uma rua aparentemente insignificante.
Rua banhada pelo sol. Iluminada, divinamente iluminada. Luz que ninguém via. Os moradores, acostumados com a mesma luz nas mesmas paredes, jamais notaram sua beleza.
"Malditos olhos de poeta!" - pensou.
Em vão, fez perguntas aos seus vizinhos sobre a origem daquela beleza. "Não há beleza nenhuma! E o que vês sempre esteve aí." Porém, havia algo. Uma beleza dolorida habitava-lhe a alma ao abrir a janela do seu quarto.
Eram os mesmos paralelepípedos de sua infância, banhados pela mesma luz. Eram os mesmos moradores, só estavam maltratados pelo tempo. Era a mesma casa.
E o algo? O algo que lhe arrancava lágrimas, uma dor vazia. O que era?
Suspirou, fechou os olhos e sorriu. Tinha um dia pela frente, embora o sentimento inexplicável não lhe abandonasse.
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