19 de mar. de 2014

Olhos de poeta

Viu que jamais existiria ângulo igual.

Era uma rua simples, pisada incessantemente por seus transeuntes. Deixavam marcas onde pisavam, traziam areia de outros lugares. Traziam nos pés as suas angústias; na força dos passos, suas dores. 

Pessoas, apenas. Em uma rua aparentemente insignificante.
Rua banhada pelo sol. Iluminada, divinamente iluminada. Luz que ninguém via. Os moradores, acostumados com a mesma luz nas mesmas paredes, jamais notaram sua beleza.

"Malditos olhos de poeta!" - pensou.

Em vão, fez perguntas aos seus vizinhos sobre a origem daquela beleza. "Não há beleza nenhuma! E o que vês sempre esteve aí." Porém, havia algo. Uma beleza dolorida habitava-lhe a alma ao abrir a janela do seu quarto. 

Eram os mesmos paralelepípedos de sua infância, banhados pela mesma luz. Eram os mesmos moradores, só estavam maltratados pelo tempo. Era a mesma casa. 

E o algo? algo que lhe arrancava lágrimas, uma dor vazia. O que era?

Suspirou, fechou os olhos e sorriu. Tinha um dia pela frente, embora o sentimento inexplicável não lhe abandonasse.

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